Eu tinha 26 anos, havia terminado meu mestrado, trabalhava
pra caramba e estava organizando meu casamento quando comecei a desconfiar que
estava grávida. Minha menstruação não descia nem com reza brava.
Mas, peraí, vamos voltar no tempo. Eu nunca pensei em ter
filhos, nunca havia pegado um bebê no colo e sequer me imaginava casando.
Sempre me vi como um ser ímpar, que iria viajar pelo mundo, pular de galho em
galho. Não à toa sai de casa aos 20 anos porque queria liberdade.
Esse cenário começou a mudar quando conheci o Marcos, meu
marido. Enquanto outras meninas crescem
sonhando com véus brancos e casamentos pomposos, eu fui criada ouvindo minha
mãe falar que um mês depois que conheceu meu pai já estavam morando juntos e
nunca mais se separaram. Por alguma coincidência do destino, comigo não foi
muito diferente.
Nos conhecemos em 2003, começamos a namorar em junho. Em
julho, lhe dei uma mochila de aniversário para facilitar a logística do
carregamento de suas roupas no eixo Pantanal – Lagoa da Conceição. Em novembro,
compramos uma arara e uma prateleira que colocamos no outro quarto. A partir
deste dia, a escova de dentes, a toalha, a mochila e o monitor de computador
dele ganharam a companhia definitiva de uma coleção gigante de tênis e
camisetas, que só viria a aumentar nos anos seguintes.
Ao contrário das teorias sociológicas que eu estudava – que
diziam que tudo que era sólido se desmanchava no ar – tudo que era “ar” foi se
solidificando na minha frente. Marcamos o casamento para o dia 12 de junho –
que romântico! – na igrejinha da Lagoa. E eu, que nunca soube rezar sequer um pai
nosso, me peguei agendando batismo, catequese, crisma express e orçando
buffet.
Nessa época, éramos
adultos, sem filhos e nossa vida era bem agitada. Saíamos direto e tomávamos
muita cerveja. Tanta, que nunca consegui me lembrar com clareza do dia exato
que engravidei. Agora, voltamos pra onde eu tinha começado o texto.
O exame de farmácia foi taxativo, eu estava gravidíssima.
Chorei, me descabelei e no começo, cada vez que eu contava pra alguém, não continha as lágrimas. Apesar de ser super a favor de aborto, eu nem cogitei tirar, eu
queria aquele bebê, só não sabia o que era ter um filho, a ideia me dava
pânico.
Costumo dizer que o bom da gravidez é que ela dura 9 meses,
que é o tempo suficiente para nos acostumarmos com tudo, reorganizarmos
nossa vida, providenciarmos as coisas do bebê e até de ansiarmos desesperadamente
pelo seu nascimento.
A Anita nasceu em março de 2005 e desde então, eu virei a
mãe da Anita, uma coadjuvante da vida dela e não mais a protagonista da minha
própria. Não sei se todos os pais têm esta relação tão devota com suas crias.
Eu tenho uma admiração e uma paixão tão grande pelo meu “bichinho cabeludo”,
uma guriazinha magricela, de olhos grandes e ideias incríveis, que não se
parece nem com o pai nem a mãe, que quando falo pra ela que é a coisa mais
importante da minha vida, estou sendo 100% sincera.
Obviamente neste processo, de conciliar a vida que eu imaginei
pra mim com a vida que de fato construí, me perco muitas vezes. E to muito mais
pra uma mãe meio louca e sem paciência do que praquela mãe calma, super
ponderada e coerente.
A prova de que a coerência não é o meu forte foi que, depois
de 6 anos declarando aos 4 ventos que jamais teria outro filho, decidi
engravidar e agora estou quase parindo. A Aurora nasce dia 21 de maio, daqui
duas semanas. E se a Anita já me trouxe
felicidade e encheu a minha vida de amor, não imagino nada diferente da Aurora,
que segundo Nietzsche, representa o novo despertar para uma verdadeira vida.
Mini perfil
Ana Emília Cardoso é jornalista e socióloga e trabalha com
pesquisa de comportamento do consumidor. É editora deste blog e há anos escreve
também na Casa de Anita. Tem 34 anos, gosta de andar de bicicleta, cozinhar e,
se pudesse, passava o dia inteiro lendo.
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