Por Cris Luz
Começou na segunda-feira, dia 07 de maio. Eram 7h da manhã
quando o João acordou chorando e o pai dele foi até o seu quarto para tirá-lo
do berço e me entregar para mamar.
Como é sabido, o João tem refluxo e, por isso, passa grande
parte do dia e dorme na cadeirinha de balanço da Fischer Price, pois ela o
deixa com o tronco bem elevado, ele se sente bem e nós nos sentimos seguros. Até
então, ele dormia nessa cadeirinha no meio da nossa cama, mas como ele está para
completar 3 meses, já não podíamos mais adiar o momento de fazer ele dormir no
quarto dele. Por isso, nesse dia combinamos que ele continuaria dormindo na
cadeirinha, mas no quarto dele, em cima do berço.
O Alexandre, ao escutar o choro do João, foi buscá-lo para
me entregar e dar o peito pra ele.
Quem conhece essa cadeira sabe que ela possui uma alça que
serve apenas para que os móbiles fiquem perdurados nela, jamais se pode pegar a
cadeira pela alça, ela não tem sustentação pra isso. Com isso, a pegada tem que
ser com as duas mãos, pela lateral.
Para o Alexandre sair do quartinho do João, ele precisava
abrir a porta, mas como estava com as duas mãos ocupadas, ele se utilizou da
própria cadeirinha para abri-la. Nesse instante, ele deu uma leve guinada para
a direita. Foi quando o pior aconteceu. O João caiu de lado, batendo a cabeça
no chão, causando um traumatismo craniano que fez o osso de sua frágil
cabecinha quebrar de forma grave do lado esquerdo e trincar do lado direito,
causando a formação de um coágulo pequeno, mas que poderia aumentar.
Nosso desespero, principalmente o do Alexandre, que não se
perdoa em ter cometido esse acidente grave em nosso bebê, só não foi maior porque
ele não desmaiou nem perdeu a consciência com a queda, apenas chorava
desesperadamente.
Corremos para o Hospital Cristo Redentor, mais próximo da
nossa casa e, chegando lá, o João foi imediatamente atendido. No auge do desespero,
rezando e implorando pela vida do nosso filho, entra a Dra. Rosane Canozzi pela
porta como se fosse um anjo enviado por Deus. A Dra. Rosane é mãe da Carol aqui
do blog. Eu sabia que ela era médica neurocirurgiã e cheguei a pedir a Deus por
ela, quando de repente ela surge no momento de maior desespero de nossas vidas.
Foi ela quem deu todo o diagnóstico inicial e nos falou sobre a gravidade do
caso e, com muita delicadeza e sinceridade, por sua larga experiência na área,
nos tranquilizou, pois tinha certeza de sua plena recuperação. Só não sabíamos
se o João iria precisar passar por uma cirurgia para retirar o coágulo, caso
ele aumentasse, ou se ele iria regredir espontaneamente, o que era mais comum.
Hoje, um pouco mais serena, eu vejo que Deus esteve do nosso
lado o tempo todo e nos rodeou de anjos. A Dra. Rosane é minha vizinha, mora em
frente ao meu prédio e, volta e meia, nós vemos ela chegar e sair pra
trabalhar. Nesse dia, minha mãe, que ficou na minha casa enquanto a Maria
Eduarda dormia e nós tínhamos saído em busca de socorro para o João, viu da
janela a Dra. Rosane saindo de casa. Mal ela sabia que esse anjo de pessoa
estaria a caminho do hospital, ao encontro do João para lhe salvar a vida.
Na opinião da Dra. Rosane, o hospital que melhor receberia o
João era o HPS, pois somente lá teria, além de neurologista 24h, UTI pediátrica, caso ele precisasse de uma cirurgia de
emergência.
Eu e o João fomos de ambulância para o HPS. Vivi um
pesadelo, jamais pensaria, durante minha gestação, que o bebeê que eu esperava,
aos 2 meses de vida, seria carregado numa ambulância correndo risco de vida. Certamente eu teria surtado. Jamais pensei que teria tanta força dentro de mim.
A gente que é mãe não tem a menor ideia do que podemos
suportar quando o problema envolve a saúde e a vida dos nossos rebentos.
Apesar do João não correr mais risco de morte e estar em
plena recuperação, terá que ficar na UTI em observação até a próxima
segunda-feira, quando fará uma nova tomografia, ou seja, passará o dia das mães
aqui.
Eu, que estou amamentando, não sei como meu leite não secou
com tanto stress que vivi. O João, nos dois primeiros dias após o acidente,
vivia chorando desesperadamente, nada o tranquilizava. Isso porque eu estava
passando todo o meu nervosismo pra ele através do meu toque e do meu leite.
Meu nervosismo não era à toa. O João passou por uma transfusão
de sangue, pois ficou anêmico após a queda. Eu logo questionei “como assim,
perdeu sangue, se não derrubou uma gota sequer?” O médico me explicou que o
sangue que ele perdeu ficou em forma de coágulo dentro de sua cabecinha, por
isso ela estava tão inchada.
No segundo dia após o acidente, a equipe médica achou a
barriga dele muito inchada. Fizeram um raio-x e encontraram um líquido dentro
dela. O João teve que passar por mais sofrimento, colocaram um dreno em seu
nariz pra puxar o líquido e ver se não era sangue.
Para colocar o dreno, mandaram que eu saísse, pois eles já
sabiam do meu estado e ver ele passar por mais isso só iria piorar. Saí do lado
do meu bebê, mas do lado de fora da UTI podia ouvir os gritos e choros de
desespero do João. Nesse momento, perdi o chão, o fundo do poço parecia não ter
fim, eu ia caindo, desabando...
O João teve que ficar quase 10h com o dreno e, por isso, não
pude amamentá-lo. Chorei desesperadamente, meus seios cheios de leite, meu bebê
com fome e eu não podia alimentá-lo.
Esse foi o momento que mais tive medo de perdê-lo. Após
tanto chorar incomodado com o cano eu seu nariz, o João ficou com o rosto meio
inchado, achei ele muito abatido. Por fim, o líquido retirado era saliva e
muito ar que ele engolira de tanto chorar.
Até que um médico decidiu tirar o dreno porque só pioraria o
refluxo dele, fizeram novamente um raio-x e sua barriguinha já não tinha mais
líquido algum. O João pôde voltar a mamar e eu voltar a respirar.
Depois disso, o João começou numa evolução que não parou
mais. Eu, então, me tranquilizei e pude passar tranquilidade pra ele. Na
verdade, nós dois nos aliviamos e tudo começou a melhorar.
Na quarta-feira, nada mais me deixava triste, o meu
Joãozinho estava feliz, tranquilo, mamando feito um tourinho, como sempre foi.
Hoje, a notícia de que teremos que ficar até segunda-feira
no hospital me abalou um pouco, queria muito passar o dia das mães em casa com
os meus dois filhotes, mas já estou conformada, se é para o bem dele, eu só
posso aceitar.
Atualmente, tenho me dividido entre o hospital e correr pra
casa para que a Maria Eduarda sinta o mínimo possível a minha falta. É a parte
mais difícil, pois é só eu chegar em casa e já estão me ligando avisando que o
João está desesperado querendo mamar. Lá vou eu correndo tomar banho, colocar
mais roupas para o João, dar atenção pra Maria e voltar correndo para a UTI. Nem
consigo pensar em mim. Para se ter uma ideia, somente ontem lembrei de escovar
os dentes. Ainda bem que eu e o Alexandre mal temos nos visto, porque temos nos
revezado no hospital.
Ontem, saí do hospital às 18h em ponto, quando o Alexandre
chegou para ficar com o João. Tinha prometido buscar a Maria na escolinha, não
podia faltar. Entrei na Av. Sertório e transitei toda ela pelo corredor de
ônibus, me sentindo a pessoa mais certa do mundo. Nunca tinha cometido uma
infração tão certa de que estava agindo da maneira mais correta. Nenhum
azulzinho poderia me deter naquele momento. Eu precisava chegar na escolinha o
mais rápido possível.
Chegando lá, a Duda, que já não me via praticamente há 2
dias, voou no meu colo e me encheu de beijos. Saímos de lá e fomos comer picolé
antes de ir pra casa. Eu tinha que fazer tudo correndo, mas fingindo estar
calma para que ela não percebesse minha aflição. Aquele momento era só dela.
Chegando em casa, tomamos um banho, brincamos de lavar os
cabelos das bonecas, dei leite na mamadeira pra ela e, quando olhei para o
relógio, já passava das 20h. Peguei minha bolsa e ela me olhou e perguntou:
- Mãe, eu vou ficar em casa sozinha com a Princesa?
- Nunca, minha filha! Eu e o papai jamais vamos te deixar
sozinha. Agora tu vai ficar na casa da vovó vendo DVD que o papai tá vindo
correndo pra ficar contigo. Tu sabe, né, filha, que a mãe tem que ficar com o
João porque ele toma leite no peito e tu toma na dedeira, mas isso tudo vai
acabar e logo estaremos nós quatro juntos novamente. A mãe te ama muito!
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