Por Caroline Bittencourt
Em alguns aspectos, minha mãe é igualzinha às outras, e
sobre isso não é preciso falar. Melhor mãe do mundo e blablablá. Quero falar
sobre o que faz minha mãe ser diferente das outras mães, diferente das outras
pessoas.
Primeira coisa: ela abre cabeças. De verdade, com serra e
furadeira. O quão bizarro é pensar nisso? Bom, se há pessoas que precisam ter
suas cabeças abertas, tem que haver pessoas que as abram. E uma dessas pessoas,
no caso, é a minha mãe. Sei que existem outras mães que abrem cabeças, mas acho
que nenhuma tinha três filhos aos dezessete anos.
O fato de ver e atender todos os dias pessoas que precisam
ter suas cabeças abertas faz com que minha mãe leve ao pé da letra aquela coisa
do carpe diem, do aproveite a vida porque a vida é curta,
do é preciso amar as pessoas como se não
houvesse amanhã, porque se você paraaar pra pensar, na verdade não há. Já
ela não precisa parar pra pensar. Ela vê o amanhã das pessoas acabar todos os
dias.
A mãe faz o que tem vontade, diz o que tem vontade, vai onde
tem vontade, compra o que tem vontade, come o que tem vontade. E aproveita
MUITO e valoriza MAIS AINDA cada momento. Tudo é motivo de comemoração, todas
as ocasiões são especiais, tudo merece um brinde. Vá que hoje seja o último
amanhã de um de nós?
Outra coisa, muito importante: a mãe é a pessoa mais
colorida que eu conheço. Se há tantas cores no mundo, porque usar só algumas?
Partindo desse princípio, dificilmente ela vai pintar suas
vinte unhas com a mesma cor. Então surgem combinações das mais variadas, tipo
rosa e azul alternadamente nas mãos (unha rosa, unha azul, unha rosa...),
combinando com um pé rosa e outro azul. Que tal?
E tem a casa. Paredes coloridas, claro. Por fora, são todas
azuis, mas por dentro deve haver umas seis ou sete cores, às vezes no mesmo
cômodo. Agora os móveis também são coloridos, a mesa de jantar está (“é” seria
muito definitivo) rosa. Santos de todas as religiões, lembranças de viagens,
quadros em cada pedacinho de parede. Ah, sim, e banheira dentro do quarto. E
fogão à lenha na cozinha. E coleção de chaleiras. E de vacas.
Tem também as comidas. Enquanto a maioria das pessoas cresceu
comendo feijão com arroz diariamente, lá em casa a comida básica na época de
vacas magras era massa com sardinha. Fanta pra acompanhar, porque coca seria
muito convencional, e nada era convencional. Comidas agridoces, temperadas,
inventadas. Arroz de leite de janta, por que não? Reza a lenda que minha
PRIMEIRA papinha foi de beterraba.
Mania de limpeza e organização. Vários banhos por dia.
Perfumes e creminhos sem ter fim. Cabelos diferentes a cada estação. Dialeto
próprio, sotaques variados e invenção de palavras e expressões. Generosidade
raríssima. Amor infinito. Mais generosidade. E muito mais amor.
Essa lista iria longe, mas tenho que encerrar pra ir encontrá-la
pra almoçar, porque por mais que todos os dias sejam especiais, hoje é o dia
dela. E a gente nunca sabe se hoje não vai ser nosso último amanhã, aprendi com
a minha mãe.
Até o carro dela é daqueles nada convencionais, ele é bem moderna mesmo. Somos fãs!!!
ResponderExcluirAi Carol, adorei muito. Não rola um encuentro de blogueiras na casa da tua mãe? Ela é personagem da Ruth Rocha!
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