sexta-feira, 29 de março de 2013

A entrega do bico para o coelhinho

Há dias havia combinado com a Maria que na páscoa ela entregaria o bico para o coelhinho, em troca de uma cesta recheada de ovos.
Tudo certo, ela estava super animada. Como estamos na praia, decidi que hoje (sexta-feira santa) seria a páscoa, até para não ter que fazer essa troca só no domingo, preferi que estivéssemos todos juntos nesses dias de tensão sem bico.
Tudo armado para não levantar dúvidas quanto a existência do coelhinho, fui até o carro busquei as cestas e deixei do lado de fora da porta. Confisquei o bico e disse pra ela que iríamos deixar na porta para que o coelho fizesse a troca. Ela me entregou sem pestanejar.
Logo em seguida bate o coelhinho na porta. Correria para abrir a porta e encontrar a cesta. O bico já não estava mais lá. Ela em nenhum momento demonstrou tristeza.
Passou o dia sem pedir o bico, mesmo vendo o mano chupar de vez em quando. Foi uma vitória não ter colocado o bico na boca e nem ter pedido. Até então, sábados, domingos e feriados eram dias de bico liberado, desde quando o João nasceu deixei de lado aquela regra básica de chupar bico só para dormir. Deixei ela à vontade, com isso ela se tornou um biqueira de fim de semana.
Só que a noite chegou e senti ela nervosa, até que começou com uma crise de manha sem motivo, não demorou pra ela chorar e começar a pedir pelo bico.
Chorou que soluçava, falando que estava triste porque tinha saudade do biquinho dela, que tinha entregado o bico porque queria muito comer os chocolates, mas que queria o bico de volta.
Eu do lado da cama a consolando com palavras de incentivo. Mas estava morrendo de pena de ver ela toda encolhidinha pedindo pelo parceiro de tantos anos, ou melhor, parceiro de todos os anos de sua vida. Ela se conhece chupando bico, eu também. Parece bobagem mas não é fácil tomar essa decisão. É tão inocente o hábito dela, eu sei o quanto ela gostava de estar com aquele bico na boca.
Só sei que ela choramingou até que perguntei "quer o bico do João um pouquinho?"
Os olhinhos dela brilharam, ela só balançou a cabeça com um olhar confidencial pra mim. Passei uma água no bico azul do mano e ela me agradeceu com um sorriso.
Eu sei que fiz a coisa mais errada, não deveria ter fraquejado, devia ter ouvido a razão, mas meu coração falou mais alto.
Também sei que está perto de acabar, que ela não terá mais um bico dela, só o fato do bico que ela usou ter sido o do irmão, que é bebê, já vai fazer ela largar de vez, acredito eu.
Amanhã não vou tocar no assunto com ela, muito menos lembrar que ela pegou o bico do mano emprestado para dormir. Acho que ela vai se sair bem dessa. Teve uma crise de abstinência passageira na hora de dormir, mas esperada. O que eu não esperava foi a minha atitude, eu que estava tão decidida, acabei cedendo à olhinhos lacrimejados e voz miudinha clamando pelo bico. Tudo bem, não sou a primeira mãe que erra por amor, nem serei a última. O fato é que os dias estão contados e acho que até domingo terei ótimas notícias para dar.

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