terça-feira, 29 de maio de 2012

Praticando o desapego

Já faz um ano, dois meses e vinte dias que a Betina vai pra escolinha mas mesmo assim ainda penso nela à tarde e meus olhos enchem de lágrima. Fico relembrando os nossos momentos em casa e num momento de nostalgia total volto lá longe como ela diria e lembro dela na barriga, o primeiro contato, os banhos atrapalhados, as tardes dormindo abraçadas.....aiai bicho bobo esse chamado mãe.

A primeira semana de adaptação dela na escolinha foi super tranquila. Eu que saía de lá chorando rios de lágrimas. Mas quando ela sentiu que aquela seria sua rotina todas as tardes o bicho começou a pegar. Ela chorava quando entrava na rua da escolinha. E não era um choro desesperado, não eram gritos, era um choro sentido, de mágoa, profundo, daqueles que quando para de chorar ficam ainda suspiros. E era isso que acabava comigo. Ela chorava me olhando, os olhos azuis brilhantes derramando lágrimas de sofrimento, as mãozinhas abrindo e fechando na minha direção....me sentia a verdadeira madrasta, a mãe sem coração que deixava sua filha única e saía com um simples tchau, até depois. No máximo atirava um beijinho de longe, porque se chegasse perto, ela grudaria no meu pescoço e não teria jeito de desgrudar.

Essa fase durou quase um mês, já estava quase desisitindo quando de repente ela começou a se despedir de mim tranquila, enxergava os amigos e a professora e já sorria indo de encontro à eles. Logo ela foi se entrosando mais e mais, começaram a acontecer as festinhas, o vínculo aos poucos foi se fortalecendo, chegou ao ponto dela chorar quando passávamos na rua da escolinha mas dessa vez não por não querer entrar e sim porque queria ir mesmo sendo sábado ou domingo.

No começo me sentia solta, sim essa é a palavra, solta. Sabe quando saímos de casa e esquecemos algo? sabe aquela sensação de estar perdida? eu me sentia assim sem ela. Por duas vezes senti muita falta dela e liguei para a escola para saber como ela estava. Ao buscá-la no fim do dia, a pedagoga me chamou e me mostrando os braços arrepiados disse que no momento em que foi dar uma espiada nela enquanto eu aguardava no telefone, Betina olhou pra ela e disse: mamãe??? Nossa, fiquei pensando que minha saudade era tanta que acho que chamei ela em pensamento.

Mas esse tempo dela na escolinha foi e tem sido ótimo pra nós duas. Estou mais pacenciosa, tolerante e observar o desenvolvimento dela é muito gratificante. Adoro quando ela chega cantando uma musiquinha nova, contando uma travessura às gargalhadas, falando nos amigos.....

Infelizmente ou felizmente os filhos não são nossos, são do mundo e começamos muito cedo a praticar o desapego, vamos nos preparando para o crescimento deles todos os dias, primeiro na educação infantil, depois nas atividades extra classe, logo vem a escola, os compromissos, os primeiros amigos inseparáveis e daí por diante não para mais.

Hoje mesmo fiquei olhando aquela coisinha miúda pronta para sua aula de ballet, tão linda, tão concentrada arrumando a mochila do ballet e fiquei pensando em tudo isso que escrevi e pedindo que o tempo seja generoso e passe devagarinho pra que eu possa ter a ilusão de que ela é só minha.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Minha mãe só pra mim


Fiquei comovida com o texto da Ana, falando do ciúmes da Anita, sua primogênita, com a chegada da Aurora. Revivi os primeiros dias da chegada do João, e o ciúmes da Maria Eduarda.

 No dia do parto, eu e o Alexandre saímos aos prantos de casa, choramos até chegar ao hospital, mas não era um choro de emoção, por vivermos mais um momento tão especial, que é o nascimento de um filho. Era um choro de culpa, de ver que nossa pequena já não era mais tão pequena assim, que ela deixaria de ser a única, de ter toda atenção voltada pra ela. Ficamos mais emocionados ainda, porque, ela que sempre foi muito grudada na gente, viu nós nos arrumarmos, mala na mão, toda aquela agitação típica de um nascimento e sentiu que não estava incluída nos planos naquele momento. Abrimos a porta, chamamos o elevador e a Duda falou:

- ´´Vocês vão no médico tirar o João da barriga?``

- Sim filha. Não consegui dizer mais nada, a voz ficou embargada, o Alexandre deu uma virada, disfarçando a emoção.

- ´´Tá bom mãe, eu vou ir pra casa da vó então``...e saiu levando seu DVD rosa.

 Como uma verdadeira moça, entrou na casa da minha mãe que mora no mesmo prédio e andar que o meu, bateu a porta, e eu e o Alexandre nos derramamos em lágrimas e seguimos para viver momentos ainda mais emocionantes pela frente.

 Depois de conhecer a carinha do João, minha maior curiosidade era ver a cara dela vendo ele pela primeira vez. Infelizmente estava sendo costurada nesse momento. Graças à pediatra deles, a Drª Clarissa Miura, que fez o papel de fotógrafa, eu pude ver a cara da Duda nesse exato momento. Ela ficou um pouco apreensiva, como vocês podem ver abaixo.

 No dia seguinte, ela foi nos visitar no hospital. No primeiro momento, ela estava eufórica, queria pegar ele, recebeu o presente que o mano trouxe de ´´dentro da barriga``, brincou feliz. Mas logo em seguida, parece que caiu a ficha dela e de repente ela começou a chorar, mas não era um choro de manha, era um choro com sentimento, profundo. Eu chorava junto.  Ao final da visita, ela foi embora no colo do pai esticando o bracinho pra que eu a pegasse no colo e voltássemos nós três pra casa, como era antigamente.

 Não deve ser fácil para a criança entender que a mãe fica grávida, depois vai para o hospital, fica longe dela por no mínimo dois dias, e volta com um bebê que toma quase todo o tempo daquela que estava à sua disposição 24 hs por dia. Esse bebê vira o centro das atenções, recebe presentes das visitas, faz a mãe ficar mais cansada, não deixa a mãe sentar no chão para brincar com ela porque chora quase o tempo todo querendo mamar, trocar fraldas, dormir...enfim, o novo integrante da família precisa da sua mãe para tudo.

 Como eu fiz cesárea, não pude pegar a Maria no colo durante quinze dias, ela então reclamava que eu só pegava o João no colo e ela não.

 Em casa, tivemos o cuidado de não ficar elogiando o João na frente dela, os familiares que vinham visitar faziam a mesma coisa, mas volta e meia eu via ela de cabeça baixa, escondida ou chorosa no seu quarto. Enquanto amamentava o João, peguei ela algumas vezes me espiando pela fresta da porta fazendo beicinho.

 Dica para os visitantes de plantão; sempre que forem visitar um recém-nascido, e este tiver um irmão ou irmã, leve presente para os dois, ou não levem para nenhum. Não chegue direto indo conhecer o bebê. Primeiro fale com o mais velho, peça então para ele te mostrar o irmão(ã). Não fique elogiando o bebê, primeiro; porque o bebê não entende nada do que você diz e, segundo; que quem entende, está atento em cada palavra que você fala e só vai alimentar o ciúmes. Conclusão: elogie quem realmente quer e precisa ouvir elogios naquele momento.


Felizmente, isso tudo passa. A crise de ciúmes da Duda durou cerca de cinco dias, no máximo. Todo esse sentimento ruim foi se transformando, e o amor de irmão falou mais alto. Hoje, a Maria é simplesmente fascinada pelo João, abre o maior sorriso quando acorda e vê ele. Ela que sempre foi resmunguenta logo que acorda, é só colocar o mano do lado dela e, tchau mau humor.

Hoje, se eu elogio o João na frente dela, sabem qual sua reação? Ela elogia junto, beija, abraça, é Joãozinho prá cá, é Joãozinho prá lá, e eu tenho que segurar ela pra conter suas emoções.

É tanto carinho que ela tem pelo irmão que quando aconteceu o acidente do João, o Alexandre chegou um dia a me comentar que não iria se perdoar se algo de pior acontecesse. ´´Imagina Cris, tirar o João da Duda, eu não aguentaria.`` O mesmo eu não posso falar da Princesa, nossa cachorra. O ciúmes dela pela Maria Eduarda perdura até os dias de hoje, na verdade a princesa é quem foi o primeiro bebê da casa, e agora com o João, a Princesa está inconformada.










Sou "grrrrrrrande"

Sim, não basta retrucar à todo momento em que se sente contrariada que ela é grande, tem que ser nessa sonorização "rrrrrrrrrrr" extremamente iRRitante!! Hoje foi um dia daqueles com a Dona Betina - não, não me refiro ao livro fofo de Bradley Trevor ilustrado por cães e gatos meigos com frases de auto ajuda, me refiro a um dia cheio de pirraças, manhas e a frase fófis: sou grrrrrrande!!

Começou pela manhã, assim que abriu os olhos e começou a pedir para tomar refri. Disse que não, que refri era só no final de semana e foi aquele drama....situação contornada, veio a hora de comer o iogurte. Como sempre, quis abrir aquela fina tampa de alumínio com a mesma delicadeza que se manipula uma britadeira no asfalto....resultado: roupa suja, tapete sujo, muita reclamação da minha parte e a frase fófis para fechar a cena: sou grrrrrrrande!!

Dei graças a Deus quando o pai dela abriu a porta de casa, sinal que a manhã havia terminado, que ela iría para a escolinha gastar sua energia, eu seguiria para o meu trabalho e quem sabe quando nos reencontrássemos à tardinha ela estaria mais relaxada e menos birrenta. Trabalhando durante a tarde me senti um tanto culpada, pois rebati ao mau humor dela pela manhã com mau humor também. Seria a síndrome da segunda-feira?? Chegando próximo do horário de buscá-la passei a mão em uma barrinha de chocolate e sai. Ela veio ao meu encontro feliz como sempre e ainda no carro lhe dei a barrinha de chocolate. Mal podia imaginar que esse seria o "pivô" de uma nova discussão que acabaria com a frase fófis: sou grrrrrande! Depois claro de vidros lambuzados, roupa imunda e chocolate até nas orelhas e nariz!

Enfim chegamos em casa e rolou um castiguinho para a moça pensar no que tinha feito. Mas o efeito durou pouco. Depois do banho, resolveu que queria passar desodorante....com a justificativa claro que ela é.....grrrrrrande! Após muito choro ela dormiu e eu sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim.

Fico rezando e pensando quando essa fase do sou grrrrande vai passar!

Sabrina que já embalou a Betina e agora embala? embala? será?

Essa tem sido a minha dúvida desde que a Betina completou 3 anos: ter outro filho ou não ter?? eis a questão!! Sou filha única e quando grávida essa parecia ser uma questão resolvida na minha cabeça, teria somente um filho e não se falava mais nisso. Meu marido concordava com a minha opção e assim seguíamos felizes e bem resolvidos. Até que...as dúvidas começaram a gritar: será que ela não seria mais feliz com um irmão?? será que eu tenho o direito de negar isso a ela?? e se?? e mas se??


Para deixar a dúvida ainda mais viva dentro de mim, cada vez que alguém pergunta a idade dela, já emenda o comentário básico: está na hora de ter outro hein??


Aí eu me pergunto se tem hora certa, se tem uma diferença certa de idade, se for mais tarde será que não será assim tão bom.....ou seja, surgem ainda mais perguntas e consequentemente muita ansiedade.


A única certeza que tenho é que não vou resolver essa questão às pressas como quem dá resposta a uma sociedade que cobra primeiro namorado, depois marido, logo quer saber do primeiro filho e após claro, quando vem o outro! Estamos felizes vivendo nosso momento a três e isso é o que realmente deve ser valorizado e curtido ao máximo.


Enquanto não nos resolvemos, sigo embalando minha pequena com um amor tão grande que não sei como cabe no peito!


Mini perfil
Sabrina Soares Nunes, 34 anos, casada há 5 anos com o Cristiano, mãe da Betina de 3 anos. Com o último semestre de Psicologia trancado desde que se casou, atualmente retornou a trabalhar nos negócios da família. Seu pai é proprietário da Via Pan, padaria considerada modelo na cidade de Porto Alegre RS - com várias indicações da revista Veja entre as melhores da cidade. Após dar à luz a Betina, foi mãe em tempo integral durante 2 anos e agradece a Deus por ter tido esse privilégio. 

Nasce um irmão, nasce a culpa

por Ana Emília Cardoso

Ouvi esta frase de uma mãe de gêmeas ontem, que me explicava quão mal se sentia quando estava com uma bebê no colo e a outra levantava os bracinhos. Nada mais pertinente ao meu 'mood' de ontem. Defina culpa: Ana Emília.

A Anita está péssima, chora na escola, se afastou da gente. E ontem, e só ontem, me caiu a ficha. Eu ando tão in love com a Aurora que chego a me culpar inclusive por não ter sido assim, tão amorosa e paciente com a Anita.

O resultado disso são lágrimas. Muitas. Felizmente não sou a única a sentir essas coisas. Hoje recebi a visita das fadas madrinhas, não, das três rainhas magas (Tete, Sica e Soraya), umas vizinhas ótimas que eu tenho, que me ajudaram a entender isso. Sim, elas também sofreram (e ainda sofrem) da tal culpa do segundo filho. Como já são escoladas, trouxeram presentes para Anita e foram solidárias na minha dor. Deram até um prazo pra passar: dizem que em um mês tudo isso será bem abrandado.

Lembro de uma amiga de Floripa que falava que primeiro filho doía. No caso dela, era um menino, e o pai visivelmente gostava mais e era mais tolerante com os outros dois filhos, uma menina e um menino. Acho que o homem, às vezes, tem ciúmes da mulher com o primogênito.

Hoje nasceu a Malu, irmã da Duda e da Carol, amigas da Anita. A Duda também tá em crise, e eu e a Dani, mãe delas, estamos pensando em fazer um grupo com elas, com um psicóloga intermediando. Bem é verdade que quem tá precisando de psicóloga agora sou eu. Mas, vai passar... se não passar, eu conto aqui.

sábado, 26 de maio de 2012

Será um nocaute?


Tá rolando um combate de pesos pesados aqui em casa.

 A Duda está, há uma semana, com tosse, nariz entupido, catarro e, segue beijando o mano o tempo todo. Eu já parei de tentar apartar os dois; ao menor descuido e a Duda já está em cima do João, tossindo na cara dele e repetindo:

 - Ai Joãozinho, como tu é bonitinho...

- Ai Joãozinho, que saudade...

- Ai João, meu gostosão.
 
E assim, ela segue conquistando cada dia mais a atenção do seu irmão. É só o João escutar a voz da Maria que ele já corre os olhinhos procurando sua ídola. Sim, porque os irmão mais velhos são sempre idolatrados pelos mais novos, pelo menos nessa fase de aprendizado, descobertas e travessuras.
 
Os irmão mais velhos, são uma espécie de professores da tirania. A Duda pula, corre, grita, saltita, bate palmas, canta e o João fica vidrado em cada gesto, cada palavra, armazenando tudo em sua cabecinha, para que, logo mais, ele possa pôr em prática tudo o que ele vem observando com tanta atenção.

Por isso, eu sigo rezando muito para que o João, tão pequeninho, não pegue a tosse da irmã. Se isso acontecer será a vitória, por nocaute, do leite materno.

Todos nós sabemos que, através do leite materno, a mãe transmite vários anticorpos para o bebê, é como se fosse uma barreira contra as doenças. Mas o que eu, realmente quero saber, é se esse tal leite materno é assim tão poderoso que vai resistir a tantos beijos e elogios ao pé do ouvido. Porque, prevenir de doenças que circulam no ar é uma coisa, mas vencer uma mana mega apaixonada e mega beijoqueira, é outra bem diferente. Eu sigo orando...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pérolas, todo filho tem as suas


Nossa chefa, a Ana, está de licença por alguns dias cuidando de sua nova criação, a Aurora. E, quando o chefe vira às costas os empregados tomam conta.  Já que nossas blogueiras estão se sentindo ´´livres`` e sem idéia, resolvi dar uma descontraída com algumas pérolas que a Duda tem dito nos últimos meses.


 Duda fazendo xixi no banheiro:
- Mãe, tá saindo água da minha perereca.

- Filha, sabe que o João disse que te ama?
- O João não fala mãe, ele não tem dente!

João, com apenas uma semana de vida, e a Duda lhe morde o dedinho.
- Filha, porque tu mordeu o dedo do mano, agora ele tá chorando...
- É que ele me mordeu primeiro...

Tenho uma bolinha saltada na cabeça(muito feia), herança da minha catapora na infância. Há poucos dias a Duda brincando de cabeleireira comigo, descobriu a tal bolinha e soltou:
- Que bolinha bonitinha, mãe! (filhos é muito bom para o ego, eles sempre te acham linda!)

João, certo dia chorava sem parar.
- Mãe, eu não quero mais esse irmão.

Eu e a Duda assistindo um filme, quando de repente um casal começa a se beijar enlouquecidamente, daquelas cenas que dá vergonha de ver na frente dos filhos A Duda dá um grito:
- Mãe, eles estão se mordendo. O coelhinho não vai trazer ovinhos pra eles!

 Quando estava grávida do João, teve um churrasco na casa da minha mãe onde compareceu um tio meu, que eu adoro, e que tem uma barriga um tanto quanto avantajada, de chope mesmo. A Duda olhou para a barriga dele e perguntou:
- Tem João aí dentro?

 Até encontrarmos nossa funcionária, a Maria José, muitas outras passaram aqui em casa. Isso deve ter causado uma certa confusão na cabecinha da Duda. Sempre que ela queria se referir a Dona Maria, ela me perguntava:
- Como é que é mesmo o nome da ´´limpeza``?

Outro dia ela olhou bem fundo no olho da nossa cachorrinha, a Princesa, de quase dez anos, e falou:
- Tu tá com saudade do teu paizinho, Prin? Ai, pobrezinha da Princesa, ela tá com saudade da família dela...

Na turminha do semestre passado da Duda, tinha uma professora chamada Valquíria, mas conhecida como prof. Val; as crianças eram todas fascinadas pela Val. Um dia, estávamos eu e a Duda em casa quando começou uma tempestade. Nós olhamos pela janela e eu disse:
- Viu filha, o vendaval?
- A Val, mãe, aonde?
- Não Duda, é o vendaval, vento forte.
- Aonde a Val?
Tentei sem sucesso, explicar que não estava vendo a Val, mas acabamos a conversa e a Duda seguiu olhando pela janela procurando a prof. Val.

A última foi essa semana, no trocador do João. Como de praxe, o João adora dar uma mijadinha pro alto quando eu tiro suas fraldas, ainda não me acostumei a ser mãe de menino, esqueço de colocar a fraldinha em cima do pintinho e levo umas mijadas de vez em quando. A Duda vendo o João fazer seu xixi voador, falou:
- Que feio Joãozinho, fazendo xixi na cara da mãezinha! Pede desculpa pra ela.


Dá pra aguentar? Só quem é pai e mãe, sabe quantas pérolas somos presenteados diariamente por nossos filhos falantes e sedentos em descobrir o mundo. É incrível ver aonde vai a imaginação deles. E vcs, têm pérolas de seus filhos pra contar?

domingo, 20 de maio de 2012

Escolhinha


Mãe, por que a Alexia não vai na escolinha do papai do céu?

Foi assim que a filha de uma amiga nos perguntou – a mim e a mãe dela – se a A. não poderia fazer mais uma atividade com ela. Mas antes que eu tivesse a chance de responder por que a minha filha não frequentava a tal escolinha, minha amiga respondeu bem rápido que ela era muito pequena, e por isso não poderia ir.

Essa minha amiga, que é espírita e está levando as filhas todos os sábados para a evangelização, sabe muito bem que da minha boca teria saído algo bem diferente como resposta. Mas fiquei calada.

Eu respeito a religião alheia, mas sou ateia. Não consigo acreditar em nada destas coisas, não tem jeito. Tem algumas religiões que acho mais interessantes que outras, vejo que existe uma filosofia interessante por trás, mas no geral esses dogmas e as coisas inexplicáveis me repelem mesmo. Eu fui batizada no catolicismo, fiz primeira comunhão, casei na igreja e batizei meus dois filhos. Mas desde a primeira comunhão me tornei agnóstica, e nos últimos dez anos me vi ateia mesmo.

Achei legal batizar as crianças porque gosto da ideia de ter padrinhos. Casei na igreja porque meu marido queria, e sei lá, eu achava bonita essa viagem romântica de casar na igreja, vestido, véu.... Mas confesso que hoje, quando me lembro, acho que exagerei feio na hipocrisia.

De qualquer forma, meu filho nunca foi para o catecismo. Minha mãe, que também detesta a igreja católica, disse um dia: não crie esse menino com essas ideias de pecado e de culpa católica, deixa ele ser livre para pensar o que quiser. E foi o que eu fiz. Ele praticamente nunca foi a uma missa, e as aulas de religião que teve na escola na Inglaterra para mim foram suficientes: estudou as quatro grandes, cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo, sob um ponto de vista meio sociológico. O único parênteses que faço é que acho que ele perdeu um lado cultural de se saber a história católica, as parábolas, os santos, etc, já que o nosso mundo é cheio de referências disso. Mas ele sempre pode aprender se tiver interesse.

Meu marido falou que quer que a pequena faça comunhão. Não poderia ser diferente, ele vem da Itália! - e tem uma mamma que peregrina à Lourdes todos os anos.... Mas eu cada vez mais tenho aversão a se colocar uma criança pequena para ouvir pessoas que acreditam piamente em uma verdade específica e que fazem de tudo para convencer as crianças de que é daquele jeito que o mundo funciona.

A conversinha com a filha da minha amiga me mostrou mesmo o quanto isso tudo é absurdo para mim. É justo condicionar crianças a acreditarem em certas coisas? Ou é melhor deixar elas decidirem no que acreditam? Essas escolinhas do papai do céu fazem mais bem do que mal? O que vocês acham? Eu sei o que funciona na minha casa...

sábado, 19 de maio de 2012

As fases da Dona Anitinha

por Ana Emília Cardoso

Quando li o post da Cris sobre as manias da Duda de se vestir sempre com a mesma roupa, de gosto duvidoso e inadequada ao clima, me pilhei de fazer uma retrospectiva da Anita.

Na quinta fizemos nosso ~ encuentro ~ na casa colorida da mãe da Carol. Foi um barato, por sinal. Pena que Flavinha/Nassif não puderam ir. A mãe da Carol é tudo aquilo mesmo, com o detalhe de que aos 29 anos já era avó e que fala mais de 300 palavras por minuto.

Contrariando as expectativas gerais, não entrei em trabalho de parto naquela noite. A Flavinha já tinha imaginado tudo, ía filmar, se duvidar, ía botar até no Teledomingo (um programa semanal gaudério - tipo Fantástico). Mas, não. Ufa!

Anyway, to pela boa, como dizem. Ontem a médica disse que a Aurora tá muito encaixada, só não sai porque eu não tenho dilatação. Se fosse definir meu estágio em duas palavras seria: barriga baixa. Será que ela espera até segunda?

Bom, vamos lá, às fases da Anita, que aliás, passaram todas, ainda bem!

Noiva: isso foi aos 4 anos, ía todo dia assim pra escola, de buquê na mão e tudo. Todos os guris da sala queriam casar com ela. Eu morria de vergonha.

Anita Cousteau: explorando bromélias comestíveis com o inseparável elefantinho, o Lefan.

Como a mamãe gosta: viu, Cris, vale esperar. Demora, mas elas se vestem como a gente quer, às vezes.
 Itgirl: todo dia um look, tinha uma pastinha de fotos chamada "Com que roupa eu vou"?


Blogueira: Meus pais são jornalistas? Eu também sou.

Pedacinhos: esse vestido foi a Dani C. quem mandou pra Anita, por sedex. Um dia, após mais de mil utilizações, escondi e mandei pra prima de Curitiba. A Anita só queria usar ele, dos 3 aos 6 anos.
 Amélie Poulain: Eu acho que to mais pra Willy Wonka, ela dizia quando aparou a cabeleira pela primeira vez.
Amy: outra fase que durou algum tempo. Sim, ela ía almoçar fora e pegava a van da escola com esta produção.

Felizmente, agora, aos 7 anos, no segundo do colégio, ela só quer saber de UNIFORME da escola e nos finais de semana, usa uma legging jeans (jegging) ou uma calça cargo cáqui. Viu, gurias, peruagem tem data de vencimento!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

(Mais) Festinha de aniversário


Aqui “na gringa” as festinhas de aniversário são tão abundantes quanto no Brasil. Todo mundo que tem crianças em idade escolar vive seus finais de semana transportando os rebentos de uma festa para a outra, e dando graças a deus pelas duas ou três horas de babysitting grátis para aproveitar e fazer algo de útil/de adulto/dormir. Mas a quantidade de festas de aniversário que seu filho vai frequentar meio que depende, doa a quem doer, da popularidade dele.

Socialmente é aceitável não convidar todas as crianças da classe para as festinhas. Normalmente eles escolhem oito ou dez amiguinhos mais chegados e ficam sobrando uns cinco ou seis coitadinhos nerds impopulares que não são convidados. Também acontece muitíssimo, a partir dos sete ou oito anos, de meninos só convidarem meninos e meninas só quererem meninas. Às vezes convidam a todos, quando a pessoa é muito bem educada, tem bastante dinheiro ou está de bom humor, mas é raro.

As modalidades de festa também variam. No Brasil existem muitos buffets, aquelas festas enormes que não são apenas para as crianças como também para os pais, com salgadinhos, bebidas e até almoço. Uma delícia, mas às vezes os pais gastam mais nessas festinhas do que o que se gasta num casamento né? Aqui o esquema muda um pouco.

As festas são estritamente para as crianças, com raríssimas exceções. Devem incluir obrigatoriamente um tema e uma atividade, e o local depende disso. Então tem festa no boliche, festa na piscina, festa no paintball, festa no cinema, festa no show (como já contei do Pe), festa no lugar de pintar prato, festa no arborismo, festa de picnic no parque. Também tem a festa no salão alugado na igreja, festa no jardim de casa, e, por fim, festa no “brinquedão”, que seria o que mais se aproxima de um buffet infantil brasileiro: um lugar público que conta com um daqueles labirintos altíssimos e apavorantes, coloridos, com redes, piscina de bolinha, tuneis, escorregadores, passarelas, etc  - quem tem criança sabe o que é.

Já organizei e levei meu filho/frequentei muitas festinhas nos últimos 13 anos. E agora vou começar TU-DO de novo. Estou organizando a festa de três aninhos da minha petita. Vai ser no Little Gym.

Essa Little Gym é um lugar meio bizarro para quem vem do Brasil. É tipo uma academia para bebês e criancinhas, cheia de colchões coloridos, um tatame e uns equipamentos que lembram vagamente aqueles de ginástica olímpica, com trampolins, barras, redes para subir e descer e exercitar aquelas perninhas gordinhas e fofinhas. Estive lá uma vez para uma aulinha experimental quando cheguei em Lux, e gostei, mas acabei não frequentando por falta de organização, digo, tempo.

Contatei o lugar e a festinha vai ser para quinze crianças, que é o mínimo (nem conheço tanta gente com filho dessa idade, mas tudo bem). Eles oferecem acho que o bolo, uns refrescos, as brincadeiras, e dura duas horas. Tenho que ver direito o que está incluso no pacote, que não entendi bem o que a mocinha me explicou no telefone. Só sei que se eu quiser comidinhas para os pais tenho que levar, e bebidas e pratos também. Um saco, mas faz parte, é difícil achar um lugar que a) ofereça tudo, b) tenha espaço na data que eu queira, e c) não custe absurdamente caro. Mas mesmo com esse pequeno inconveniente acho que vai ser bem legal, no dia dez do seis.

E agora toca correr atrás de coxinha e empadinha, porque né, festinha sem salgadinho, na minha concepção, não é festa! Sorte que aqui encontrei uma mulher que faz a MELHOR coxinha - empadinha do mundo, melhor que qualquer similar brasileiro, juro por deus. 


Hum... não vejo a hora!

Branca de Neve em apuros


O problema com roupas aqui em casa começou aos 2 anos com a Duda, primeiro ela escolhia os sapatos, achava tão bonitinho ela com tanta personalidade decidindo entre o tênis das princesas ou um chinelo da gatinha Mary. Mas com o tempo o caldo começou a engrossar.
 
Hoje, o simples ato de pegar uma calcinha na gaveta, virou motivo de discussão.  Com a Duda não existe negociação, nem proibindo o chocolate que ela ama tanto, ela não cede, a guria é osso duro de roer.

 Há mais ou menos seis meses atrás ela ganhou uma camiseta da Branca de Neve, muito bonita por sinal, e desde então, ela só quer usar a tal camiseta e a bermuda de flor ou a da Hello Kit, faça frio ou calor. Quando chega da escolinha, ela já sabe que a toalha e a roupa dela já estão em cima da cama e a banheira cheia para o banho.  A primeira coisa que ela faz é olhar se eu coloquei a camiseta da Branca de Neve e a bermuda de flor pra ela vestir, é claro que eu não coloquei essa roupa em cima da cama, coloquei um abrigo bem quentinho, já que as noites andam bem frias. Aí começa o drama, ela vai correndo procurar a roupa de guerra em seu guarda-roupas. Se não está ali, é porque a Maria, nossa funcionária lavou, ela sobe correndo para ver se encontra no varal. Se tá molhada ela fica rondando, na esperança que vá secar logo. A bermuda, que é Jeans, já está dura de tanto ser lavada.

 Isso tudo pode ser até engraçado, mas na casa dos outros. Fui orientada por uma psicóloga que eu poderia dar duas opções de roupas que eu entendesse apropriada para o momento, para ela escolher, se caso ela não escolhesse eu é quem deveria escolher. E não adianta espernear, vai ter que vestir, mesmo à força. É o que estávamos fazendo. Meu marido segurando a Duda e ela esperneando, me chutando, para não se vestir. Fazer isso um , dois, quem sabe três dias até que dá pra aguentar, mas ela não desiste da Branca de Neve. Isso esgota a paciência de qualquer vivente, cada vez que vamos vestí-la, podemos ficar preparados que vai ter guerra.

Por sugestão da minha sogra e da Maria, nossa funcionária, decidimos esconder todas essas peças de roupas. Inventamos uma história mirabolante, difícil de acreditar, mas como ela ainda tem três anos, deu pra enrolar.

Ontem, ela acordou crente de que ia virar uma princesa, procurou a roupa e não achou.

 - Mãe, cadê a minha Branca de Neve e a bermuda da flor?

- Bah filha, nem te conto, um ladrão entrou aqui em casa e levou todas as tuas bermudas e a camiseta da Branca de Neve!!

 Ela estalou os olhos, apavorada:

- O ladrão mãe?? Mas por quê?

- Porque ele é bandido

- Mas ele gosta das pessoas né?

- Mais ou menos...

Nesse momento eu vi que ela ficou assustada, aí dei uma amenizada até para não traumatizar minha princesa e falei que o ladrão só vai devolver no verão, e ela tá acreditando, pelo menos por enquanto. Ontem, quando ela chegou da escolinha, perguntou se o ladrão já tinha devolvido as roupas dela, pobrezinha...

A mania dela em escolher roupas vai além da própria pessoa. Agora ela deu pra escolher a fralda que o João vai usar. A Pampers tem vários tipos de bichinhos nas fraldas, ela teimou que tem que ser a fralda de cachorrinho, e o pior é que essa é a que menos tem no pacote. Ainda, ela quer escolher as meias do João, tem que ser a meia da bola. Nas lojas ela quer comprar as cuecas do Ben10, tênis não sei do que, tudo porque ela diz que o João precisa. Ah, tá! 

Segue uma foto da minha Branca de Neve vestida à rigor.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ele me faz tão bem...

Os melhores momentos da minha vida são ao lado dele. Óbvio, né?!

Por trabalhar com vídeos, eu estou sempre com uma câmera na mão, e com isso, acabo registrando momento muito engraçados do Nassif. Esse foi na casa da Ana e da Anita. Melhor que explicar, é mostrar...


Intercambiando

Por Caroline Bittencourt
 
A Mari sempre falou em fazer intercâmbio e nunca cogitou ir pra outro lugar além dos Estados Unidos. Na verdade, pensou também no Japão, mas né. Não.

Decidimos que a melhor opção seria ir logo que terminasse o colégio. O vestibular seria adiado, mas até aí penso que é vantagem.

Tudo acertado com a agência, era só esperar pela confirmação da data e do local, o que poderia acontecer a qualquer momento. Ficamos sabendo no dia 19 de dezembro que ela embarcaria no dia 30, chegando lá no último dia do ano. A cidade ficava no litoral do Texas, Corpus Christi é o nome.

Eu estava no meio da reforma do apartamento novo, com mudança marcada para o dia 05 de janeiro, o Lucca de braço quebrado, Natal chegando, tudo um caos. Por um lado, essa confusão toda até ajudou, porque desviou um pouco o foco da viagem. Eu tinha tanta coisa pra me preocupar que não dava pra me preocupar demais com nada.

A despedida foi tensa. Dei tchau pra ela e devo ter chorado por quase uma hora, sem parar. Não era um chorinho de escorrer lágrimas tranquilas, era soluçando e escorrendo o nariz, um horror.

Minha menina tinha embarcado para outro país sozinha, faria três conexões sozinha, ficaria mais de 24h em aviões e aeroportos sozinha, passaria o réveillon sozinha, e CINCO MESES SOZINHAAA... E dá-lhe lenço de papel, dramalhão sem fim.

Chegando lá, a princípio tudo certo. Mas com o passar dos dias, ela começou a reclamar demais da família que a recebeu. No início, achei que o jeito tímido da Mari pudesse estar atrapalhando, mas com o tempo fui percebendo que a coisa era séria. Chegou num ponto que o clima em casa era tão ruim que ela me implorava pra vir embora. Um dia me ligou chorando de madrugada. Eu queria morrer, me culpei muito! Pensei que não deveria tê-la deixado ir, que deveria tê-la mandado voltar na primeira reclamação, que ela era muito nova pra estar tão longe de mim... Pra completar, muita gente buzinando nos meus ouvidos isso tudo. Cheguei a me sentir uma monstra!

Nesse meio tempo, a família de um colega a conheceu e se compadeceu com a situação. Passou a insistir muito para que ela fosse pra casa deles. Falaram diretamente com a coordenadora do programa, marcaram jantar, insistiram mesmo. E eu mandando e-mails diários pra agência daqui e pra organização de lá relatando o que acontecia e pedindo providências.

Enfim, a troca de família foi autorizada! Mais ou menos uma tonelada deve ter saído das minhas costas. Tive certeza de que ela ficaria bem, eu sentia. E estava certa!

Esta nova host family é incrível! Tratam a Mari como se fosse filha deles, fazem de tudo pra agradar, são muito queridos!

Sabendo que ela é louca por cerejeiras e coisas de cerejeiras, foram a Washington durante o período em que florescem as cerejeiras doadas aos EUA pelo Japão na época da I Guerra Mundial, tem até um festival.

Faltam duas semanas pra ela voltar. Olhando pra trás agora, parece que passou voando. Logo que ela foi, parecia que cinco meses durariam toda a eternidade.

Minha menina sofreu muito, não tenho dúvidas, e eu também. Mas olha, não me arrependo nem por um minuto por ter insistido pra ela aguentar firme e ficar. Tudo aconteceu como tinha que acontecer, that's life. Tenho certeza de que ela foi muito feliz lá e de que tudo que viveu só a fez crescer. As lembranças ruins até já se apagaram.

Sozinha ela nunca ficou, nem nunca vai ficar. E eu, bom, pra monstra acho que não sirvo.

Mari & Cherry Blossom

domingo, 13 de maio de 2012

À uma semana do parto

por Ana Emília Cardoso

Comprovado: vários estudos apontam que grávidas que comem chocolate na gravidez têm bebês mais inteligentes e corajosos. Esses estudos se referem a um pedacinho por dia e o chocolate deve ser meio amargo. Se fosse diferente - quanto mais melhor e qualquer tipo de doce valia - a Aurora já nascia com QI 200 e seria a mais destemida das criaturas. Não raro me aproveito da minha condição de grávida magricela e como muito chocolate e doce de leite. Até no meio da madrugada. Coisa boa.

Tomara que depois eu não tenha que mudar minha alimentação por causa de cólicas e outras motivos que levam os bebês a chorar. Por que, se for preciso, mudarei. O choro de um recém-nascido é quase como uma sirene de ambulância, pelo menos para o ouvido dos pais. Principalmente da mãe, quando esta é um ser amamentador. Por falar nisso, hoje é dia das mães e eu vou aproveitar o meu descansando mais um pouco, passeando livre leve e solta. Combinei de encontrar uma amiga na redenção, a Alexandra, mãe da Julia Blum, que é amiguinha da Anita desde quando elas tinham 2 aninhos.
Olha as duas aí no inverno passado.

Quem me pariu


Por Caroline Bittencourt

Em alguns aspectos, minha mãe é igualzinha às outras, e sobre isso não é preciso falar. Melhor mãe do mundo e blablablá. Quero falar sobre o que faz minha mãe ser diferente das outras mães, diferente das outras pessoas.

Primeira coisa: ela abre cabeças. De verdade, com serra e furadeira. O quão bizarro é pensar nisso? Bom, se há pessoas que precisam ter suas cabeças abertas, tem que haver pessoas que as abram. E uma dessas pessoas, no caso, é a minha mãe. Sei que existem outras mães que abrem cabeças, mas acho que nenhuma tinha três filhos aos dezessete anos.

O fato de ver e atender todos os dias pessoas que precisam ter suas cabeças abertas faz com que minha mãe leve ao pé da letra aquela coisa do carpe diem, do aproveite a vida porque a vida é curta, do é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você paraaar pra pensar, na verdade não há. Já ela não precisa parar pra pensar. Ela vê o amanhã das pessoas acabar todos os dias.

A mãe faz o que tem vontade, diz o que tem vontade, vai onde tem vontade, compra o que tem vontade, come o que tem vontade. E aproveita MUITO e valoriza MAIS AINDA cada momento. Tudo é motivo de comemoração, todas as ocasiões são especiais, tudo merece um brinde. Vá que hoje seja o último amanhã de um de nós?

Outra coisa, muito importante: a mãe é a pessoa mais colorida que eu conheço. Se há tantas cores no mundo, porque usar só algumas?

Partindo desse princípio, dificilmente ela vai pintar suas vinte unhas com a mesma cor. Então surgem combinações das mais variadas, tipo rosa e azul alternadamente nas mãos (unha rosa, unha azul, unha rosa...), combinando com um pé rosa e outro azul. Que tal?

E tem a casa. Paredes coloridas, claro. Por fora, são todas azuis, mas por dentro deve haver umas seis ou sete cores, às vezes no mesmo cômodo. Agora os móveis também são coloridos, a mesa de jantar está (“é” seria muito definitivo) rosa. Santos de todas as religiões, lembranças de viagens, quadros em cada pedacinho de parede. Ah, sim, e banheira dentro do quarto. E fogão à lenha na cozinha. E coleção de chaleiras. E de vacas.

Tem também as comidas. Enquanto a maioria das pessoas cresceu comendo feijão com arroz diariamente, lá em casa a comida básica na época de vacas magras era massa com sardinha. Fanta pra acompanhar, porque coca seria muito convencional, e nada era convencional. Comidas agridoces, temperadas, inventadas. Arroz de leite de janta, por que não? Reza a lenda que minha PRIMEIRA papinha foi de beterraba.

Mania de limpeza e organização. Vários banhos por dia. Perfumes e creminhos sem ter fim. Cabelos diferentes a cada estação. Dialeto próprio, sotaques variados e invenção de palavras e expressões. Generosidade raríssima. Amor infinito. Mais generosidade. E muito mais amor.

Essa lista iria longe, mas tenho que encerrar pra ir encontrá-la pra almoçar, porque por mais que todos os dias sejam especiais, hoje é o dia dela. E a gente nunca sabe se hoje não vai ser nosso último amanhã, aprendi com a minha mãe.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Tem tema?


Por Caroline Bittencourt


Por mais qualificada, graduada e pós-graduada que seja a mãe, é humanamente impossível dominar o conteúdo das matérias do colégio dos filhos. Parece que foi em outra vida que aprendemos aquilo tudo!

Me deparo com minha ignorância com enorme frequência, sempre que ouço “tenho tema/prova/trabalho e preciso da tua ajuda”. Pãtz!

Esses dias o Lucca teve que refazer em casa um trabalho de artes porque a professora disse que o primeiro estava SEM SENTIMENTO.

Comecei um discurso sobre a diversidade das habilidades entre as pessoas, dizendo que ninguém é bom em tudo, que a gente aprende um pouco de cada assunto no colégio pra estimular nossa cabeça e nossos interesses em várias áreas, mas que depois vamos esquecendo daquilo que não usamos mais, etc, etc, etc. Concluí com um “artes é com o teu pai, pede ajuda pra ele quando for pra lá”.

Dias depois, aparece ele com um polígrafo gigante de matemática. Expressões numéricas com parênteses, colchetes e chaves, tudo com potenciação no meio, com expoente dentro ou fora... Isso se aprende no 5° ano? Sim. E eu não lembrava de nada. Pulei fora com um “ainda bem que tu tem padastro engenheiro, chama ele ali”.

Na semana seguinte, vem ele todo feliz com o polígrafo de português. “Mãe, hoje tu vai poder me ajudar! Advogados são bons em português, né?”.  “Claro! Vamos lá!”. Começo a olhar os exercícios: monossílabos tônicos ou átonos, dígrafos, ditongo nasal, diferença entre hiato e tritongo... Coço a cabeça e admito “Lucca, pega lá a gramática porque vamos precisar de ajuda pra fazer isso aqui”.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O maior susto da minha vida


Por Cris Luz

Começou na segunda-feira, dia 07 de maio. Eram 7h da manhã quando o João acordou chorando e o pai dele foi até o seu quarto para tirá-lo do berço e me entregar para mamar.

Como é sabido, o João tem refluxo e, por isso, passa grande parte do dia e dorme na cadeirinha de balanço da Fischer Price, pois ela o deixa com o tronco bem elevado, ele se sente bem e nós nos sentimos seguros. Até então, ele dormia nessa cadeirinha no meio da nossa cama, mas como ele está para completar 3 meses, já não podíamos mais adiar o momento de fazer ele dormir no quarto dele. Por isso, nesse dia combinamos que ele continuaria dormindo na cadeirinha, mas no quarto dele, em cima do berço.

O Alexandre, ao escutar o choro do João, foi buscá-lo para me entregar e dar o peito pra ele.

Quem conhece essa cadeira sabe que ela possui uma alça que serve apenas para que os móbiles fiquem perdurados nela, jamais se pode pegar a cadeira pela alça, ela não tem sustentação pra isso. Com isso, a pegada tem que ser com as duas mãos, pela lateral.

Para o Alexandre sair do quartinho do João, ele precisava abrir a porta, mas como estava com as duas mãos ocupadas, ele se utilizou da própria cadeirinha para abri-la. Nesse instante, ele deu uma leve guinada para a direita. Foi quando o pior aconteceu. O João caiu de lado, batendo a cabeça no chão, causando um traumatismo craniano que fez o osso de sua frágil cabecinha quebrar de forma grave do lado esquerdo e trincar do lado direito, causando a formação de um coágulo pequeno, mas que poderia aumentar.

Nosso desespero, principalmente o do Alexandre, que não se perdoa em ter cometido esse acidente grave em nosso bebê, só não foi maior porque ele não desmaiou nem perdeu a consciência com a queda, apenas chorava desesperadamente.

Corremos para o Hospital Cristo Redentor, mais próximo da nossa casa e, chegando lá, o João foi imediatamente atendido. No auge do desespero, rezando e implorando pela vida do nosso filho, entra a Dra. Rosane Canozzi pela porta como se fosse um anjo enviado por Deus. A Dra. Rosane é mãe da Carol aqui do blog. Eu sabia que ela era médica neurocirurgiã e cheguei a pedir a Deus por ela, quando de repente ela surge no momento de maior desespero de nossas vidas. Foi ela quem deu todo o diagnóstico inicial e nos falou sobre a gravidade do caso e, com muita delicadeza e sinceridade, por sua larga experiência na área, nos tranquilizou, pois tinha certeza de sua plena recuperação. Só não sabíamos se o João iria precisar passar por uma cirurgia para retirar o coágulo, caso ele aumentasse, ou se ele iria regredir espontaneamente, o que era mais comum.

Hoje, um pouco mais serena, eu vejo que Deus esteve do nosso lado o tempo todo e nos rodeou de anjos. A Dra. Rosane é minha vizinha, mora em frente ao meu prédio e, volta e meia, nós vemos ela chegar e sair pra trabalhar. Nesse dia, minha mãe, que ficou na minha casa enquanto a Maria Eduarda dormia e nós tínhamos saído em busca de socorro para o João, viu da janela a Dra. Rosane saindo de casa. Mal ela sabia que esse anjo de pessoa estaria a caminho do hospital, ao encontro do João para lhe salvar a vida.

Na opinião da Dra. Rosane, o hospital que melhor receberia o João era o HPS, pois somente lá teria, além de neurologista 24h, UTI pediátrica, caso ele precisasse  de uma cirurgia de emergência.

Eu e o João fomos de ambulância para o HPS. Vivi um pesadelo, jamais pensaria, durante minha gestação, que o bebeê que eu esperava, aos 2 meses de vida, seria carregado numa ambulância correndo risco de vida. Certamente eu teria surtado. Jamais pensei que teria tanta força dentro de mim.

A gente que é mãe não tem a menor ideia do que podemos suportar quando o problema envolve a saúde e a vida dos nossos rebentos.

Apesar do João não correr mais risco de morte e estar em plena recuperação, terá que ficar na UTI em observação até a próxima segunda-feira, quando fará uma nova tomografia, ou seja, passará o dia das mães aqui.

Eu, que estou amamentando, não sei como meu leite não secou com tanto stress que vivi. O João, nos dois primeiros dias após o acidente, vivia chorando desesperadamente, nada o tranquilizava. Isso porque eu estava passando todo o meu nervosismo pra ele através do meu toque e do meu leite.

Meu nervosismo não era à toa. O João passou por uma transfusão de sangue, pois ficou anêmico após a queda. Eu logo questionei “como assim, perdeu sangue, se não derrubou uma gota sequer?” O médico me explicou que o sangue que ele perdeu ficou em forma de coágulo dentro de sua cabecinha, por isso ela estava tão inchada.

No segundo dia após o acidente, a equipe médica achou a barriga dele muito inchada. Fizeram um raio-x e encontraram um líquido dentro dela. O João teve que passar por mais sofrimento, colocaram um dreno em seu nariz pra puxar o líquido e ver se não era sangue.

Para colocar o dreno, mandaram que eu saísse, pois eles já sabiam do meu estado e ver ele passar por mais isso só iria piorar. Saí do lado do meu bebê, mas do lado de fora da UTI podia ouvir os gritos e choros de desespero do João. Nesse momento, perdi o chão, o fundo do poço parecia não ter fim, eu ia caindo, desabando...

O João teve que ficar quase 10h com o dreno e, por isso, não pude amamentá-lo. Chorei desesperadamente, meus seios cheios de leite, meu bebê com fome e eu não podia alimentá-lo.

Esse foi o momento que mais tive medo de perdê-lo. Após tanto chorar incomodado com o cano eu seu nariz, o João ficou com o rosto meio inchado, achei ele muito abatido. Por fim, o líquido retirado era saliva e muito ar que ele engolira de tanto chorar.

Até que um médico decidiu tirar o dreno porque só pioraria o refluxo dele, fizeram novamente um raio-x e sua barriguinha já não tinha mais líquido algum. O João pôde voltar a mamar e eu voltar a respirar.

Depois disso, o João começou numa evolução que não parou mais. Eu, então, me tranquilizei e pude passar tranquilidade pra ele. Na verdade, nós dois nos aliviamos e tudo começou a melhorar.

Na quarta-feira, nada mais me deixava triste, o meu Joãozinho estava feliz, tranquilo, mamando feito um tourinho, como sempre foi.

Hoje, a notícia de que teremos que ficar até segunda-feira no hospital me abalou um pouco, queria muito passar o dia das mães em casa com os meus dois filhotes, mas já estou conformada, se é para o bem dele, eu só posso aceitar.

Atualmente, tenho me dividido entre o hospital e correr pra casa para que a Maria Eduarda sinta o mínimo possível a minha falta. É a parte mais difícil, pois é só eu chegar em casa e já estão me ligando avisando que o João está desesperado querendo mamar. Lá vou eu correndo tomar banho, colocar mais roupas para o João, dar atenção pra Maria e voltar correndo para a UTI. Nem consigo pensar em mim. Para se ter uma ideia, somente ontem lembrei de escovar os dentes. Ainda bem que eu e o Alexandre mal temos nos visto, porque temos nos revezado no hospital.

Ontem, saí do hospital às 18h em ponto, quando o Alexandre chegou para ficar com o João. Tinha prometido buscar a Maria na escolinha, não podia faltar. Entrei na Av. Sertório e transitei toda ela pelo corredor de ônibus, me sentindo a pessoa mais certa do mundo. Nunca tinha cometido uma infração tão certa de que estava agindo da maneira mais correta. Nenhum azulzinho poderia me deter naquele momento. Eu precisava chegar na escolinha o mais rápido possível.

Chegando lá, a Duda, que já não me via praticamente há 2 dias, voou no meu colo e me encheu de beijos. Saímos de lá e fomos comer picolé antes de ir pra casa. Eu tinha que fazer tudo correndo, mas fingindo estar calma para que ela não percebesse minha aflição. Aquele momento era só dela.

Chegando em casa, tomamos um banho, brincamos de lavar os cabelos das bonecas, dei leite na mamadeira pra ela e, quando olhei para o relógio, já passava das 20h. Peguei minha bolsa e ela me olhou e perguntou:

- Mãe, eu vou ficar em casa sozinha com a Princesa?

- Nunca, minha filha! Eu e o papai jamais vamos te deixar sozinha. Agora tu vai ficar na casa da vovó vendo DVD que o papai tá vindo correndo pra ficar contigo. Tu sabe, né, filha, que a mãe tem que ficar com o João porque ele toma leite no peito e tu toma na dedeira, mas isso tudo vai acabar e logo estaremos nós quatro juntos novamente. A mãe te ama muito!


Lágrimas de emoção

por Ana Emília Cardoso

A última moda da Anita é ficar revendo comerciais de Natal do Zaffari e chorar rios. Vai entender...

Esse é o preferido dela:


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Comer e dormir

Nassif sempre foi assim... Desde bebezinho. Cada vez que eu começava a dar comida ele dava com a cara no prato. Não tem hora, não tem lugar. Começou a comer, ele fica soninho e capota. Não, ele não tem nenhum tipo de doença. É sono que bate. Ele não para um minuto. Só para pra comer. Nessa hora: dorme!


terça-feira, 8 de maio de 2012

Eu quero!

por Daniela C.

Gente, olhem esses videos e falem a verdade se essa meninutcha não é a coisinha mais fofa. Eu adorei, queria um desses dos meus filhos!

O que achei mais interessante é que no video dá para ver como ela é faladeira!! Toda menina é assim?



E agora olhem a versão do menino, o irmão dela, suponho. Moleques não são tão faladeiros, vivem com um brinquedo na mão, amam fazer careta e adoram enfiar porcarias na boca!




segunda-feira, 7 de maio de 2012

Declaração de amor eterno e confiança e orgulho incondicionais

(No final de 2011, às vésperas da formatura e do intercâmbio da Mari, o colégio dela pediu que os pais escrevessem uma carta para ser entregue aos filhos. Resolvi fazer a minha em forma de petição.)


ILUSTRÍSSIMA SENHORITA MINHA FILHA

  

CAROLINE CANOZZI BITTENCOURT, também denominada mãe da Mari e/ou Tchaca Rol, vem, respeitosa e carinhosamente, falando em nome de seu coração, órgão desprovido de voz e gestos próprios, à presença de Vossa Senhoria, apresentar esta DECLARAÇÃO DE AMOR ETERNO E CONFIANÇA E ORGULHO INCONDICIONAIS pelos fatos e fundamentos que passa a expor:


 DOS FATOS

Tudo começou em 1994, ano em que o Brasil se tornou Tetracampeão Mundial de Futebol e que Ayrton Senna, então o maior ídolo nacional, não resistiu a um acidente fatal.

Era época pré-internet e redes sociais, e o mundo de um adolescente se resumia a sua família, amigos de escola e agregados.

Foi então que a Autora, então com 14 anos de idade, descobriu-se gerando um bebê, o que causou alguma (mas não muita) surpresa em seu meio social.

Considerando que tal fato não se tratava exatamente de uma novidade na família da Autora, não houve sobressaltos ou desesperos.

Passado o impacto inicial, a gestação foi encarada com tranqüilidade por todos, principalmente pela Autora, que desde então acreditou ser predestinada para a maternidade precoce.

Enquanto organizava-se uma bolsa de apostas sobre qual seria o sexo do bebê, a Autora se esquivava de responder aos questionamentos acerca de sua intuição, temendo equivocar-se e preterir a opção correta. No entanto, intimamente, soube desde o princípio que se tratava de uma menina.

Após os festejos pelos 15 anos da Autora, em uma festa tida por muitos como a melhor comemoração do gênero naquela temporada, na qual a Autora começou a noite com um elegante vestido de veludo e crepe azul marinho, substituído poucas horas depois pelo indefectível macacão jeans, todas as atenções se voltaram exclusivamente à preparação para a chegada do bebê.

Na noite do dia 25 de setembro, então, um domingo abafado e chuvoso, no momento em que milhares de pessoas no país assistiam ao Fantástico na TV, a Autora foi protagonista do fantástico milagre da vida, deixando, contudo, de ser protagonista de sua própria existência.

Naquela noite, veio ao mundo sua tão esperada e já amada filha, a quem foi dado o nome de Mariana, por ser o nome mais bonito que a Autora então conhecia, opinião esta que perdura até os dias de hoje.

Pois Mariana nasceu saudável, pequena e delicada, enchendo de alegria a todos que a aguardavam lotando o nono andar do Hospital São Lucas da PUCRS.

A Autora não conseguiu fechar os olhos durante a madrugada que se seguiu, parte por temor de não acordar em razão de eventual protesto do pequeno ser que repousava a seu lado, parte por absoluto encantamento diante da concretização da imagem por meses imaginada.

Mal sabia a Autora, no entanto, que aquela seria a última noite em muitos e muitos meses em que poderia ter desfrutado de sono ininterrupto, pois a partir de então se iniciou uma seqüência de madrugadas insones, nas quais Mariana solicitava atenção e alimentação constantes.

Tais exigências, entretanto, não causavam descontentamento algum. Pelo contrário, eram atendidas com paciência e dedicação extremas, surpreendendo a todos aqueles que duvidavam da capacidade da então adolescente de dar conta de suas novas atribuições.

Apesar de não ter sido um período fácil, jamais houve reclamações ou arrependimentos, pois a felicidade que a Autora sentia em ser mãe de Mariana superava qualquer dificuldade porventura sofrida.

A menina foi crescendo e evoluindo da melhor forma possível, saudável, meiga, inteligente, simpática e linda, encantando a todos a sua volta, sem que jamais tenha provocado decepções ou maiores angústias em sua família, salvo aquelas inerentes às preocupações normalmente sentidas.

Sempre se mostrou compreensiva e companheira, interessando-se pelos assuntos e pelas pessoas que a cercavam, não tendo sucumbido nem mesmo quando do nascimento de seu irmão, fato este que costuma ensejar dissabores e rivalidade em grande parte das famílias, mas não na da Autora.

Com o passar do tempo, Mariana foi aprimorando suas características, moldando sua personalidade e amadurecendo de forma serena e equilibrada, mesmo quando fatos não desejados vieram a ocorrer, diante dos quais reagiu da forma tranqüila que lhe é peculiar, não sem certa dose de eventual e normal dramatização, pois se trata de ser humano portador de sangue e coração, por mais que costume aparentar tratar-se de ser superior.

Ao longo da vida, mostrou-se amiga leal, bailarina excepcionalmente graciosa, aluna responsável, irmã cuidadosa, neta e sobrinha carinhosa, filha exemplar e pessoa equilibrada, consciente de seu papel em seu meio e no mundo, engajada em fazer sua parte para que as relações se tornem cada vez mais harmônicas e satisfatórias.

Prestes a encerrar uma importante etapa e iniciar uma outra, ainda mais relevante, pois delineará o contorno de sua vida adulta e profissional, Mariana vem enchendo sua mãe, ora Autora, de sensações complementares e, por vezes, contraditórias de orgulho e preocupação.

Cabe ressaltar que não se trata de ausência de confiança em sua capacidade de definir metas e traçar os respectivos caminhos, mas apenas receio de que ao soltar as bordas da cerca de proteção que a acompanha há mais de 17 anos, Mariana venha a se ferir com as pedras e os buracos que a estrada que a espera possam apresentar, sem que a Autora esteja suficientemente próxima para que a socorra com a presteza necessária.

Muito embora a Autora tenha conhecimento de que a vida é feita de acertos e erros e de que não há crescimento sem sofrimento e desilusões, mostra-se extremamente penosa a tarefa de permitir que sua filha tome as rédeas da própria vida e se responsabilize pelas escolhas iminentes, principalmente diante da longa viagem de estudos vindoura, situação que tem provocado constantes calafrios camuflados de empolgação.

Cabe à Autora, neste momento, bem como nos demais momentos em que se depara com a chance de proporcionar e estimular experiências singulares a Mariana, assim como dedemonstrar a confiança na capacidade de discernimento de sua primogênita e na educação por si alicerçada ao longo dos últimos 17 anos, entregar à sua filha a titularidade de sua própria vida por meio da presente Declaração de Amor Eterno e Confiança e Orgulho Incondicionais, acompanhada das recomendações de praxe, o que faz de forma solene, mas não menos amorosa.


DOS FUNDAMENTOS

O Manual das Mães, devidamente registrado no Tabelionato do Senso Comum e Consciente Coletivo, assim dispõe:

 Art. 1º. É dever de toda mãe amar a seus filhos acima de todas as coisas e conferir aos mesmos o topo da escala de prioridades em sua vida, empenhando-se além de suas possibilidades para que a felicidade de seus rebentos esteja garantida.
Parágrafo 1º. O descumprimento do acima disposto implicará em culpa eterna e incurável.
Parágrafo 2º. A permanente tentativa de cumprimento também poderá implicar em culpa eterna e incurável.

Sendo assim, é atribuição exclusiva e intransferível da Autora o compromisso de proporcionar a sua filha todos os elementos necessários à concretização de seus projetos e busca pela realização e felicidade, sob pena de ser atingida pelo doloroso peso da culpa materna, sabidamente inafastável, mas objeto de constante fuga.

Resta à Autora, portanto, conformar-se com a diminuição de sua área de atuação nas esferas de controle e interferência na vida da filha, dando a esta a possibilidade de desenvolver-se de forma livre, consciente e responsável, tudo graças ao sistema de confiança até então desenvolvido, segundo o qual todo e qualquer assunto pode ser abordado abertamente, em que pese alguns tópicos ensejem certa polêmica.

Enquanto isso, caberá à filha a assunção do bastão de titular de sua própria vida, bem como o compromisso com o aumento do senso de auto-responsabilização pelas escolhas feitas a partir de então, ficando ciente, desde já, que em caso de apuros poderá acionar a Autora para lamentar-se e solicitar auxílio, sem necessariamente esperar por soluções mágicas, as quais não são passíveis de disponibilização instantânea.

Por fim, a Autora declara-se absolutamente confiante na capacidade da filha na direção de seus atos, mostrando-se ainda imensamente orgulhosa diante do empenho argumentativo verificado em diversas situações já vividas por ambas, razões pelas quais reitera todo seu amor à pessoa que ocupa posição inabalável no coração materno.


DOS PEDIDOS

DIANTE DO EXPOSTO, REQUER:

 a) o recebimento da presente Declaração de Amor Eterno e Orgulho e Confiança Incondicionais, para que surta os efeitos manifestos e esperados;

b) o reconhecimento por parte de Vossa Senhoria de que a Autora não toma atitude alguma sem ponderar sobre as conseqüências sobre seus filhos, e que eventuais equívocos serão objeto de incessantes tentativas de correção;

c) que a presente declaração sirva como base de apoio para as atitudes a ser tomadas a partir de então, restando à filha o compromisso de zelar por sua segurança acima de tudo, sob pena de cassação dos poderes agora conferidos, mesmo após a maioridade civil;

d) a continuidade da relação de amor e confiança sempre mantida entre mãe e filha, com a certeza de que independentemente de compromissos, promessas e declarações, nada será capaz de abalar os vínculos ou romper os laços mais fortes já experimentados pela Autora, sem os quais não haveria razão para continuar vivendo.

Dá-se à causa o infinito valor do amor.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Porto Alegre, 06 de dezembro de 2011.

Caroline Canozzi Bittencourt, Mãe