quinta-feira, 10 de maio de 2012

O maior susto da minha vida


Por Cris Luz

Começou na segunda-feira, dia 07 de maio. Eram 7h da manhã quando o João acordou chorando e o pai dele foi até o seu quarto para tirá-lo do berço e me entregar para mamar.

Como é sabido, o João tem refluxo e, por isso, passa grande parte do dia e dorme na cadeirinha de balanço da Fischer Price, pois ela o deixa com o tronco bem elevado, ele se sente bem e nós nos sentimos seguros. Até então, ele dormia nessa cadeirinha no meio da nossa cama, mas como ele está para completar 3 meses, já não podíamos mais adiar o momento de fazer ele dormir no quarto dele. Por isso, nesse dia combinamos que ele continuaria dormindo na cadeirinha, mas no quarto dele, em cima do berço.

O Alexandre, ao escutar o choro do João, foi buscá-lo para me entregar e dar o peito pra ele.

Quem conhece essa cadeira sabe que ela possui uma alça que serve apenas para que os móbiles fiquem perdurados nela, jamais se pode pegar a cadeira pela alça, ela não tem sustentação pra isso. Com isso, a pegada tem que ser com as duas mãos, pela lateral.

Para o Alexandre sair do quartinho do João, ele precisava abrir a porta, mas como estava com as duas mãos ocupadas, ele se utilizou da própria cadeirinha para abri-la. Nesse instante, ele deu uma leve guinada para a direita. Foi quando o pior aconteceu. O João caiu de lado, batendo a cabeça no chão, causando um traumatismo craniano que fez o osso de sua frágil cabecinha quebrar de forma grave do lado esquerdo e trincar do lado direito, causando a formação de um coágulo pequeno, mas que poderia aumentar.

Nosso desespero, principalmente o do Alexandre, que não se perdoa em ter cometido esse acidente grave em nosso bebê, só não foi maior porque ele não desmaiou nem perdeu a consciência com a queda, apenas chorava desesperadamente.

Corremos para o Hospital Cristo Redentor, mais próximo da nossa casa e, chegando lá, o João foi imediatamente atendido. No auge do desespero, rezando e implorando pela vida do nosso filho, entra a Dra. Rosane Canozzi pela porta como se fosse um anjo enviado por Deus. A Dra. Rosane é mãe da Carol aqui do blog. Eu sabia que ela era médica neurocirurgiã e cheguei a pedir a Deus por ela, quando de repente ela surge no momento de maior desespero de nossas vidas. Foi ela quem deu todo o diagnóstico inicial e nos falou sobre a gravidade do caso e, com muita delicadeza e sinceridade, por sua larga experiência na área, nos tranquilizou, pois tinha certeza de sua plena recuperação. Só não sabíamos se o João iria precisar passar por uma cirurgia para retirar o coágulo, caso ele aumentasse, ou se ele iria regredir espontaneamente, o que era mais comum.

Hoje, um pouco mais serena, eu vejo que Deus esteve do nosso lado o tempo todo e nos rodeou de anjos. A Dra. Rosane é minha vizinha, mora em frente ao meu prédio e, volta e meia, nós vemos ela chegar e sair pra trabalhar. Nesse dia, minha mãe, que ficou na minha casa enquanto a Maria Eduarda dormia e nós tínhamos saído em busca de socorro para o João, viu da janela a Dra. Rosane saindo de casa. Mal ela sabia que esse anjo de pessoa estaria a caminho do hospital, ao encontro do João para lhe salvar a vida.

Na opinião da Dra. Rosane, o hospital que melhor receberia o João era o HPS, pois somente lá teria, além de neurologista 24h, UTI pediátrica, caso ele precisasse  de uma cirurgia de emergência.

Eu e o João fomos de ambulância para o HPS. Vivi um pesadelo, jamais pensaria, durante minha gestação, que o bebeê que eu esperava, aos 2 meses de vida, seria carregado numa ambulância correndo risco de vida. Certamente eu teria surtado. Jamais pensei que teria tanta força dentro de mim.

A gente que é mãe não tem a menor ideia do que podemos suportar quando o problema envolve a saúde e a vida dos nossos rebentos.

Apesar do João não correr mais risco de morte e estar em plena recuperação, terá que ficar na UTI em observação até a próxima segunda-feira, quando fará uma nova tomografia, ou seja, passará o dia das mães aqui.

Eu, que estou amamentando, não sei como meu leite não secou com tanto stress que vivi. O João, nos dois primeiros dias após o acidente, vivia chorando desesperadamente, nada o tranquilizava. Isso porque eu estava passando todo o meu nervosismo pra ele através do meu toque e do meu leite.

Meu nervosismo não era à toa. O João passou por uma transfusão de sangue, pois ficou anêmico após a queda. Eu logo questionei “como assim, perdeu sangue, se não derrubou uma gota sequer?” O médico me explicou que o sangue que ele perdeu ficou em forma de coágulo dentro de sua cabecinha, por isso ela estava tão inchada.

No segundo dia após o acidente, a equipe médica achou a barriga dele muito inchada. Fizeram um raio-x e encontraram um líquido dentro dela. O João teve que passar por mais sofrimento, colocaram um dreno em seu nariz pra puxar o líquido e ver se não era sangue.

Para colocar o dreno, mandaram que eu saísse, pois eles já sabiam do meu estado e ver ele passar por mais isso só iria piorar. Saí do lado do meu bebê, mas do lado de fora da UTI podia ouvir os gritos e choros de desespero do João. Nesse momento, perdi o chão, o fundo do poço parecia não ter fim, eu ia caindo, desabando...

O João teve que ficar quase 10h com o dreno e, por isso, não pude amamentá-lo. Chorei desesperadamente, meus seios cheios de leite, meu bebê com fome e eu não podia alimentá-lo.

Esse foi o momento que mais tive medo de perdê-lo. Após tanto chorar incomodado com o cano eu seu nariz, o João ficou com o rosto meio inchado, achei ele muito abatido. Por fim, o líquido retirado era saliva e muito ar que ele engolira de tanto chorar.

Até que um médico decidiu tirar o dreno porque só pioraria o refluxo dele, fizeram novamente um raio-x e sua barriguinha já não tinha mais líquido algum. O João pôde voltar a mamar e eu voltar a respirar.

Depois disso, o João começou numa evolução que não parou mais. Eu, então, me tranquilizei e pude passar tranquilidade pra ele. Na verdade, nós dois nos aliviamos e tudo começou a melhorar.

Na quarta-feira, nada mais me deixava triste, o meu Joãozinho estava feliz, tranquilo, mamando feito um tourinho, como sempre foi.

Hoje, a notícia de que teremos que ficar até segunda-feira no hospital me abalou um pouco, queria muito passar o dia das mães em casa com os meus dois filhotes, mas já estou conformada, se é para o bem dele, eu só posso aceitar.

Atualmente, tenho me dividido entre o hospital e correr pra casa para que a Maria Eduarda sinta o mínimo possível a minha falta. É a parte mais difícil, pois é só eu chegar em casa e já estão me ligando avisando que o João está desesperado querendo mamar. Lá vou eu correndo tomar banho, colocar mais roupas para o João, dar atenção pra Maria e voltar correndo para a UTI. Nem consigo pensar em mim. Para se ter uma ideia, somente ontem lembrei de escovar os dentes. Ainda bem que eu e o Alexandre mal temos nos visto, porque temos nos revezado no hospital.

Ontem, saí do hospital às 18h em ponto, quando o Alexandre chegou para ficar com o João. Tinha prometido buscar a Maria na escolinha, não podia faltar. Entrei na Av. Sertório e transitei toda ela pelo corredor de ônibus, me sentindo a pessoa mais certa do mundo. Nunca tinha cometido uma infração tão certa de que estava agindo da maneira mais correta. Nenhum azulzinho poderia me deter naquele momento. Eu precisava chegar na escolinha o mais rápido possível.

Chegando lá, a Duda, que já não me via praticamente há 2 dias, voou no meu colo e me encheu de beijos. Saímos de lá e fomos comer picolé antes de ir pra casa. Eu tinha que fazer tudo correndo, mas fingindo estar calma para que ela não percebesse minha aflição. Aquele momento era só dela.

Chegando em casa, tomamos um banho, brincamos de lavar os cabelos das bonecas, dei leite na mamadeira pra ela e, quando olhei para o relógio, já passava das 20h. Peguei minha bolsa e ela me olhou e perguntou:

- Mãe, eu vou ficar em casa sozinha com a Princesa?

- Nunca, minha filha! Eu e o papai jamais vamos te deixar sozinha. Agora tu vai ficar na casa da vovó vendo DVD que o papai tá vindo correndo pra ficar contigo. Tu sabe, né, filha, que a mãe tem que ficar com o João porque ele toma leite no peito e tu toma na dedeira, mas isso tudo vai acabar e logo estaremos nós quatro juntos novamente. A mãe te ama muito!


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