quarta-feira, 2 de maio de 2012

Para o mundo que eu tenho que descer

 Por Flávia Murr

Eu voltei à farmácia e comprei mais 10 testes de marcas diferentes. No trajeto até a casa dos meus pais, eu sentia algo inexplicável. Uma mistura de pavor, pânico e desespero.  Minha vontade era sair correndo, mas não sabia para onde. Os testes eram de marcas variadas. Todos deram positivo. 

-         - Dra. EU ESTOU GRÁVIDA!!!

-          -Calma, Flavinha. Você não pode engravidar. Teste de farmácia não é 100% confiável.

-            - Dra. Eu fiz 11 testes. TODOS DERAM POSITIVO.

  <<Silêncio>>

-        -Você não tem como manter uma gestação. Isso pode ser uma gravidez nas trompas. Fica calma. Amanhã cedo, você passa no meu consultório, faz um exame de sangue e uma ultra-sonografia. Tenta ficar calma.

Era uma piada. Tentar ficar calma era impossível. Não tenho como descrever aquelas horas. Foi a noite mais longa da minha vida. Eu não fui preparada para ser mãe. Não fiz planos, não parei em frente ao espelho imaginando minha barriga enorme. Não sonhei com uma casa cheia de crianças gritando MANHÊEEEE!

Eu gostava de jogar futebol, fazer caratê, lutar boxe, ficar até tarde na rua, não ter rotina. Gostava de ir para a praia na sexta e voltar na segunda pela manhã. Sair com minhas amigas, dormir até tarde. Descobri que não poderia ser mãe quando tinha uns 12 ou 13 anos. Não tive nenhum problema com isso.

Pela manhã, o resultado final: positivo. O ultra-som, mostrou uma gravidez perfeita! Eu já estava com 4 meses de gestação. Eu teria apenas 5 meses para entender tudo aquilo.

Os 4 meses mais delicados da gravidez eu levei vida normal. Até os remédios da Bipolaridade eu estava tomando. Eu não sabia o que pensar, como agir nem para que lado ir. Como eu iria cuidar de uma criança? Eu mal cuidava de mim.

Meu casamento estava na beira do abismo. E eu atirei ele lá de cima. Não seria uma criança que iria consertar os estragos. Fechei o apartamento e voltei para a casa dos meus pais.

Passei aqueles 5 meses no limite do stress. A cada semana eu engordava 2kg. Cheguei ao final da gestação com 30kg a mais. Lembro de uma amiga me dizer:

-        -Flavinha, tu parece adolescente grávida!

-         -EU SOU UMA ADOLESCENTE GRÁVIDA!

-         -Mas que idade tu tem guria?

-        - 30 anos!

       Uma pedra caiu sobre a minha cabeça. Fiquei tonta por alguns minutos. Ouvir minha voz dizendo que eu já tinha 30 anos me deu um ruim. Subiu um frio na espinha. Ali eu entendi que a minha situação era um pouco mais grave.

       Eu estava com 30 anos mas eu vivia como uma adolescente de 19. Sim, descobri a síndrome de Peter Pan. O fato de trabalhar com veículos focados no público jovem, desde os meus 17 anos, fez com que eu não percebesse que o tempo havia passado. 
       
      Eu trabalhava para os jovens, tinha que entender a cabeça deles, mas eu já não fazia parte daquela geração. Foi difícil lidar com essa descoberta no meu de uma gestação, no meio de uma separação, no meio de um furacão.

       Eu já amava o Nassif, mas não sabia como iria cuidar dele. Saí do hospital uma semana depois do parto. Na verdade fui expulsa de lá. Eu não queria encarar minha casa, tinha medo de como seria minha vida.

       Eu tinha um bebê lindo e saudável no meu colo. Com o passar dos dias, eu aprendi a ser mãe, eu acho. A única coisa que me incomodava era ser uma mamadeira. Ele mamou no peito até os 6 meses, quando eu voltei a tomar minha medicação. A amamentação não foi fácil. Tive mastite, fui hospitalizada junto com ele, mas superei. Meu anjo lindo me ajudou. Ele sempre foi uma criança calma, tranquila, contratiando todas as expectativas, em função do caos da gestação.

      Se eu aprendi a ser mãe, até meu irmão pode ser! #fato

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