quarta-feira, 16 de maio de 2012

Intercambiando

Por Caroline Bittencourt
 
A Mari sempre falou em fazer intercâmbio e nunca cogitou ir pra outro lugar além dos Estados Unidos. Na verdade, pensou também no Japão, mas né. Não.

Decidimos que a melhor opção seria ir logo que terminasse o colégio. O vestibular seria adiado, mas até aí penso que é vantagem.

Tudo acertado com a agência, era só esperar pela confirmação da data e do local, o que poderia acontecer a qualquer momento. Ficamos sabendo no dia 19 de dezembro que ela embarcaria no dia 30, chegando lá no último dia do ano. A cidade ficava no litoral do Texas, Corpus Christi é o nome.

Eu estava no meio da reforma do apartamento novo, com mudança marcada para o dia 05 de janeiro, o Lucca de braço quebrado, Natal chegando, tudo um caos. Por um lado, essa confusão toda até ajudou, porque desviou um pouco o foco da viagem. Eu tinha tanta coisa pra me preocupar que não dava pra me preocupar demais com nada.

A despedida foi tensa. Dei tchau pra ela e devo ter chorado por quase uma hora, sem parar. Não era um chorinho de escorrer lágrimas tranquilas, era soluçando e escorrendo o nariz, um horror.

Minha menina tinha embarcado para outro país sozinha, faria três conexões sozinha, ficaria mais de 24h em aviões e aeroportos sozinha, passaria o réveillon sozinha, e CINCO MESES SOZINHAAA... E dá-lhe lenço de papel, dramalhão sem fim.

Chegando lá, a princípio tudo certo. Mas com o passar dos dias, ela começou a reclamar demais da família que a recebeu. No início, achei que o jeito tímido da Mari pudesse estar atrapalhando, mas com o tempo fui percebendo que a coisa era séria. Chegou num ponto que o clima em casa era tão ruim que ela me implorava pra vir embora. Um dia me ligou chorando de madrugada. Eu queria morrer, me culpei muito! Pensei que não deveria tê-la deixado ir, que deveria tê-la mandado voltar na primeira reclamação, que ela era muito nova pra estar tão longe de mim... Pra completar, muita gente buzinando nos meus ouvidos isso tudo. Cheguei a me sentir uma monstra!

Nesse meio tempo, a família de um colega a conheceu e se compadeceu com a situação. Passou a insistir muito para que ela fosse pra casa deles. Falaram diretamente com a coordenadora do programa, marcaram jantar, insistiram mesmo. E eu mandando e-mails diários pra agência daqui e pra organização de lá relatando o que acontecia e pedindo providências.

Enfim, a troca de família foi autorizada! Mais ou menos uma tonelada deve ter saído das minhas costas. Tive certeza de que ela ficaria bem, eu sentia. E estava certa!

Esta nova host family é incrível! Tratam a Mari como se fosse filha deles, fazem de tudo pra agradar, são muito queridos!

Sabendo que ela é louca por cerejeiras e coisas de cerejeiras, foram a Washington durante o período em que florescem as cerejeiras doadas aos EUA pelo Japão na época da I Guerra Mundial, tem até um festival.

Faltam duas semanas pra ela voltar. Olhando pra trás agora, parece que passou voando. Logo que ela foi, parecia que cinco meses durariam toda a eternidade.

Minha menina sofreu muito, não tenho dúvidas, e eu também. Mas olha, não me arrependo nem por um minuto por ter insistido pra ela aguentar firme e ficar. Tudo aconteceu como tinha que acontecer, that's life. Tenho certeza de que ela foi muito feliz lá e de que tudo que viveu só a fez crescer. As lembranças ruins até já se apagaram.

Sozinha ela nunca ficou, nem nunca vai ficar. E eu, bom, pra monstra acho que não sirvo.

Mari & Cherry Blossom

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