sábado, 5 de maio de 2012

Eu comigo


Por Caroline Bittencourt

Quando a Mari nasceu, eu estava no 1º ano do 2º grau (eu sei que não se chama mais assim, mas sou resistente a algumas mudanças, tipo idéia sem acento e conseqüência sem trema). Durante a gravidez, já fui dispensada das aulas de Educação Física, já que um colégio não é exatamente o melhor lugar para uma gestante encontrar programas de exercícios adequados.

Em função de uma lei que libera dessas aulas alunas com prole (parece nome de doença, como lepra, não?), que acabei de descobrir ser a 7692/88, caso interesse a alguém, não precisei fazer Educação Física até o final do colégio. Por um lado foi bom porque podia ir mais cedo pra casa ficar com a minha pitoca, mas a real é que seria a única oportunidade de eu me mexer.

Depois veio o cursinho, a faculdade... não podia parar de estudar, a prioridade era essa. Já tinha uma filha pra cuidar, depois mais um filho, seria muito egoísmo querer cuidar de mim. Seria mesmo?

Bom, de lá pra cá, me matriculei em umas dez academias diferentes, fazia um tempinho e tchau. Preguiça, pouca grana e culpa, sempre ela. Pensava que podia usar o tempo e o dinheiro que dedicava à malhação a coisas mais nobres e menos fúteis, principalmente aos filhos, sempre eles.

Beirando os 33, casada, uma filha de 17, um filho de 10, trabalhando sentada, só andando de carro... Um belo dia me dei conta de que não dava mais pra esperar. Não dava mais pra esperar terminar de embarangar, não dava mais pra esperar que sobrasse tempo e dinheiro, não dava mais pra esperar que meus filhos precisassem menos de mim. Não dava mais.

Peguei o Lucca no colégio, carreguei ele junto pra conhecer as duas academias vizinhas, escolhi uma e comecei na manhã seguinte. 14 de março de 2012: o dia em que um dilúvio parou Porto Alegre, o maior volume de chuva em sei lá quantos anos. São Pedro, esse engraçadinho.

Com chuva ou com sol, tenho ido religiosamente quatro vezes por semana. Acordo cedo, atravesso a rua meio dormindo, suo por uma hora. Volto, tomo café com meu pequeno, lemos o jornal juntos, me arrumo e saio pra trabalhar feliz. Às vezes só percebo que não liguei o rádio do carro quando já estou quase chegando no escritório, de tão boa que está a companhia. De mim mesma.

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