terça-feira, 29 de maio de 2012

Praticando o desapego

Já faz um ano, dois meses e vinte dias que a Betina vai pra escolinha mas mesmo assim ainda penso nela à tarde e meus olhos enchem de lágrima. Fico relembrando os nossos momentos em casa e num momento de nostalgia total volto lá longe como ela diria e lembro dela na barriga, o primeiro contato, os banhos atrapalhados, as tardes dormindo abraçadas.....aiai bicho bobo esse chamado mãe.

A primeira semana de adaptação dela na escolinha foi super tranquila. Eu que saía de lá chorando rios de lágrimas. Mas quando ela sentiu que aquela seria sua rotina todas as tardes o bicho começou a pegar. Ela chorava quando entrava na rua da escolinha. E não era um choro desesperado, não eram gritos, era um choro sentido, de mágoa, profundo, daqueles que quando para de chorar ficam ainda suspiros. E era isso que acabava comigo. Ela chorava me olhando, os olhos azuis brilhantes derramando lágrimas de sofrimento, as mãozinhas abrindo e fechando na minha direção....me sentia a verdadeira madrasta, a mãe sem coração que deixava sua filha única e saía com um simples tchau, até depois. No máximo atirava um beijinho de longe, porque se chegasse perto, ela grudaria no meu pescoço e não teria jeito de desgrudar.

Essa fase durou quase um mês, já estava quase desisitindo quando de repente ela começou a se despedir de mim tranquila, enxergava os amigos e a professora e já sorria indo de encontro à eles. Logo ela foi se entrosando mais e mais, começaram a acontecer as festinhas, o vínculo aos poucos foi se fortalecendo, chegou ao ponto dela chorar quando passávamos na rua da escolinha mas dessa vez não por não querer entrar e sim porque queria ir mesmo sendo sábado ou domingo.

No começo me sentia solta, sim essa é a palavra, solta. Sabe quando saímos de casa e esquecemos algo? sabe aquela sensação de estar perdida? eu me sentia assim sem ela. Por duas vezes senti muita falta dela e liguei para a escola para saber como ela estava. Ao buscá-la no fim do dia, a pedagoga me chamou e me mostrando os braços arrepiados disse que no momento em que foi dar uma espiada nela enquanto eu aguardava no telefone, Betina olhou pra ela e disse: mamãe??? Nossa, fiquei pensando que minha saudade era tanta que acho que chamei ela em pensamento.

Mas esse tempo dela na escolinha foi e tem sido ótimo pra nós duas. Estou mais pacenciosa, tolerante e observar o desenvolvimento dela é muito gratificante. Adoro quando ela chega cantando uma musiquinha nova, contando uma travessura às gargalhadas, falando nos amigos.....

Infelizmente ou felizmente os filhos não são nossos, são do mundo e começamos muito cedo a praticar o desapego, vamos nos preparando para o crescimento deles todos os dias, primeiro na educação infantil, depois nas atividades extra classe, logo vem a escola, os compromissos, os primeiros amigos inseparáveis e daí por diante não para mais.

Hoje mesmo fiquei olhando aquela coisinha miúda pronta para sua aula de ballet, tão linda, tão concentrada arrumando a mochila do ballet e fiquei pensando em tudo isso que escrevi e pedindo que o tempo seja generoso e passe devagarinho pra que eu possa ter a ilusão de que ela é só minha.

3 comentários:

  1. Que bonito teu texto, Sabrina. O vínculo com a Escola e os colegas é fundamental. Quando nos identificamos com eles nos sentimos muito mais acolhidos e seguros. Sabemos disso porque também já fomos alunos. Um abraço. Sabrina mãe do Enzo e da Paola (vê o albúm novo da Paola no meu FB)

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  2. Engraçado isso, eu nunca me senti assim. Quando botei a Anita na escola eu tava tão cansada de cuidar dela o dia todo que me deu foi um baita alívio.

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