domingo, 13 de maio de 2012

Quem me pariu


Por Caroline Bittencourt

Em alguns aspectos, minha mãe é igualzinha às outras, e sobre isso não é preciso falar. Melhor mãe do mundo e blablablá. Quero falar sobre o que faz minha mãe ser diferente das outras mães, diferente das outras pessoas.

Primeira coisa: ela abre cabeças. De verdade, com serra e furadeira. O quão bizarro é pensar nisso? Bom, se há pessoas que precisam ter suas cabeças abertas, tem que haver pessoas que as abram. E uma dessas pessoas, no caso, é a minha mãe. Sei que existem outras mães que abrem cabeças, mas acho que nenhuma tinha três filhos aos dezessete anos.

O fato de ver e atender todos os dias pessoas que precisam ter suas cabeças abertas faz com que minha mãe leve ao pé da letra aquela coisa do carpe diem, do aproveite a vida porque a vida é curta, do é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você paraaar pra pensar, na verdade não há. Já ela não precisa parar pra pensar. Ela vê o amanhã das pessoas acabar todos os dias.

A mãe faz o que tem vontade, diz o que tem vontade, vai onde tem vontade, compra o que tem vontade, come o que tem vontade. E aproveita MUITO e valoriza MAIS AINDA cada momento. Tudo é motivo de comemoração, todas as ocasiões são especiais, tudo merece um brinde. Vá que hoje seja o último amanhã de um de nós?

Outra coisa, muito importante: a mãe é a pessoa mais colorida que eu conheço. Se há tantas cores no mundo, porque usar só algumas?

Partindo desse princípio, dificilmente ela vai pintar suas vinte unhas com a mesma cor. Então surgem combinações das mais variadas, tipo rosa e azul alternadamente nas mãos (unha rosa, unha azul, unha rosa...), combinando com um pé rosa e outro azul. Que tal?

E tem a casa. Paredes coloridas, claro. Por fora, são todas azuis, mas por dentro deve haver umas seis ou sete cores, às vezes no mesmo cômodo. Agora os móveis também são coloridos, a mesa de jantar está (“é” seria muito definitivo) rosa. Santos de todas as religiões, lembranças de viagens, quadros em cada pedacinho de parede. Ah, sim, e banheira dentro do quarto. E fogão à lenha na cozinha. E coleção de chaleiras. E de vacas.

Tem também as comidas. Enquanto a maioria das pessoas cresceu comendo feijão com arroz diariamente, lá em casa a comida básica na época de vacas magras era massa com sardinha. Fanta pra acompanhar, porque coca seria muito convencional, e nada era convencional. Comidas agridoces, temperadas, inventadas. Arroz de leite de janta, por que não? Reza a lenda que minha PRIMEIRA papinha foi de beterraba.

Mania de limpeza e organização. Vários banhos por dia. Perfumes e creminhos sem ter fim. Cabelos diferentes a cada estação. Dialeto próprio, sotaques variados e invenção de palavras e expressões. Generosidade raríssima. Amor infinito. Mais generosidade. E muito mais amor.

Essa lista iria longe, mas tenho que encerrar pra ir encontrá-la pra almoçar, porque por mais que todos os dias sejam especiais, hoje é o dia dela. E a gente nunca sabe se hoje não vai ser nosso último amanhã, aprendi com a minha mãe.

2 comentários:

  1. Até o carro dela é daqueles nada convencionais, ele é bem moderna mesmo. Somos fãs!!!

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  2. Ai Carol, adorei muito. Não rola um encuentro de blogueiras na casa da tua mãe? Ela é personagem da Ruth Rocha!

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